segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Entrevista de Chico Xavier



Entrevista ao Jornal Seara Juvenil (1951)
Pergunta: - Já está havendo intensificação na seleção de espíritos para 
reencarnação nestes últimos tempos, dadas as freqüentes demonstrações de precocidade?
Resposta - "A intensificação no trabalho seletivo de valores novos para o 
mundo regenerado de amanhã, na esfera da reencarnação, vem sendo levada a 
efeito de modo gradativo pela Espiritualidade Superior"
Pergunta - Seria de melhor proveito para os Centros Espíritas se dedicar à elucidação 
das crianças, embora diminuindo trabalhos de mediunismo?
Resposta - "A assistência à mente infanto juvenil, no campo do Espiritismo Cristão, é serviço básico que não deveríamos descuidar. A educação é obra do tempo, 
esforço e paciência. E sem que nos voltemos para a sementeira, com a 
dedicação precisa, não alcançaremos a colheita valiosa. Repetimos que a criança 
é o futuro, com a preocupação de que os princípios do bem ou do mal que 
inocularmos na formação do mundo infantil são vantagens ou desvantagens para 
nós mesmos, de vez que o porvir nos espera, de modo geral, em novas 
existências. Cremos, assim, que, se necessário, a redução dos trabalhos do 
mediunismo, é medida de importância fundamental nas instituições do 
Espiritismo Evangélico, favorecendo -se maior expansão da obra de socorro 
espiritual à criança, na execução dos nossos programas doutrinários"
Pergunta - Será um mal explicar à criança as finalidades do mediunismo?
Resposta - "O conhecimento, em qualquer de suas modalidades, deve ser 
dosado na distribuição que lhe diga respeito. Dentro das possibilidades de
compreensão, em cada classe de aprendizes da nossa consoladora Doutrina,
 os ensinamentos rudimentares, acerca do mediunismo, são sempre úteis, 
ressalvando, porém, a necessidade de se evitar o excesso em quaisquer 
atividades, nesse sentido, para não viciarmos a imaginação infantil com 
inutilidades ou inconveniências, que redundariam em prejuízo ou perda de tempo"
Pergunta - É de boa orientação os encarnados preocuparem -se mais com 
seus "semelhantes" do que com os desencarnados, nas sessões práticas, 
através de estudos metodizados?
Resposta - "Acreditamos que quando a palavra do Senhor nos induziu ao auxílio
 ao próximo, naturalmente cogitou do próximo mais próximo de nós. Admitimos, 
assim, que sem nos interessarmos fraternalmente pelo progresso e pela iluminação 
dos nossos semelhantes, quando encarnados, dificilmente seremos amigos reais ou prestimosos companheiros para os nossos irmãos desencarnados.
Pergunta - Face ao crescimento das juventudes e mocidade espíritas, onde cada 
jovem deve ter sua tarefa de serviço, não seria de bom alvitre que todos os 
Centros Espíritas organizassem escolas de moral cristã para as crianças?
Resposta - "A escola de preparação infantil ao Evangelho, nos Centros Espíritas, 
é um impositivo a que não podemos fugir, sem grave dano institucional para as 
nossas edificações doutrinárias do presente e do futuro”.
Pergunta - À vista do conceito de que "a criança é o futuro", estará sendo eficiente, 
como cooperadora de Jesus, a Diretoria do Centro Espírita que só se aplica com 
sessões mediúnicas?
Resposta - " Há centros de nosso ideal espírita -cristão que naturalmente 
funcionam à maneira de pronto socorro para os sofrimentos morais, que 
envolvem encarnados e desencarnados. E, quanto a isso, será sempre de bom 
alvitre ponderar a especialização de cada agrupamento de companheiros da caridade 
e da luz. Entretanto, ainda que não seja de solução imediata o problema da 
educação infantil, nos conjuntos que atendem à finalidade a que nos referimos, o 
assunto não deve ser considerado indevassável ou inútil, a fim de que a escola de formação evangélica da criança se materialize, junto deles, tão logo se 
ofereça a necessária oportunidade.
Pergunta - Como encararmos a criança dentro do Espiritismo Cristão?
Resposta - "Cada criança que surge é nosso companheiro de luta, na mesma 
experiência e no mesmo plano, enquanto encarnados, cabendo -nos a 
obrigação de oferecermos a ela condições melhores que aquelas em que 
fomos recebidos, a fim de que se constitua nosso continuador sobre a Terra 
melhor, a que retornaremos mais tarde.
Pergunta - Existem responsabilidades para os pais espíritas que se descuidam do encaminhamento de suas crianças no entendimento do Espiritismo com Jesus?
Resposta - "Os pais são educadores responsáveis e, por isso mesmo, a primeira 
escola de cada criatura é o lar em que nasceu. Os dirigentes espíritas do 
santuário doméstico são convocados a grandes deveres junto aos filhos que recebem, de vez que são detentores de mais amplos conhecimentos de sublimação espiritual, 
diante das leis divinas. Em razão disso, precisamos considerar em Doutrina que 
acima dos menores delinquentes permanecem os pais levianos e 
voluntariamente irresponsáveis”
Pergunta - É possível a renovação do mundo em que habitamos, a era da reforma interior de cada um para o bem, sem darmos à criança de hoje o embasamento evangélico?
Resposta - "Sem a renovação espiritual da criatura para o bem, jamais chegaríamos ao nível superior que nos compete alcançar. Ajudar a criança, amparando-lhe o desenvolvimento, sob a luz do Cristo, é cooperar na construção da reforma 
santificante da Humanidade, na direção do mundo redimido de amanhã”.
Pergunta - O conceito de “Espiritismo Novo” é o de admitirmos que o campo da Terra 
nos foi individualmente dedicado e que o "lado de lá" está afeto aos prepostos de 
Jesus?
Resposta - "Certamente, o trabalho geral é de cooperação, permuta e de 
solidariedade, salientando -se, porém, que a maior percentagem de serviço 
dos encarnados está naturalmente concentrada no plano de matéria densa, em 
que se agitam os seus semelhantes"
Pergunta - É oportuno o desencadeamento do 'bom médium” em “médium bom” ?
Resposta - "A transformação do bom médium em médium bom é serviço precioso, 
de vez que não vale atender a simples fenômenos, destinados a convicções da curiosidade respeitável mas nem sempre construtiva e, sim, aproveitar os valores da Doutrina e incorporá -los à nossa própria experiência, a fim de que o próximo seja 
mais feliz e a vida mais elevada e mais digna, ao redor de nós".
Pergunta - O desenvolvimento da mediunidade se processa mais na corrente 
mediúnica ou nas ações, palavras e pensamentos de todos os minutos do médium?
Resposta - "O desenvolvimento da sublimação mediúnica permanece na corrente 
dos pensamentos, palavras e atos do medianeiro da vida espiritual, quando ajustado ao ministério de fraternidade e luz que a sua tarefa implica em si mesma".
Pergunta - Sendo verdade que o clima mental do médium atrai espíritos condizentes - bons ou maus - como agiremos diante dos médiuns que se dizem inconscientes e 
que dão comunicações alternadas e seguidas?
Resposta - "O médium não deve perder de vista a disciplina de si próprio. 
A ordem é atestado de elevação".
Pergunta - A tese de mediunidade inconsciente estará sendo estudada e observada 
com consciência pela totalidade dos médiuns que se apregoam portadores 
de tal mediunidade? Cabe -nos significar -lhes nossas dúvidas ou aguardar o tempo?
Resposta - "Na esfera do mediunismo há realmente incógnitas, que só o esforço 
paciente de nossos trabalhos conjugados no tempo conseguirão 
solucionar. Incentivemos o estudo e o auxílio, dentro da solidariedade 
cristã e, gradativamente, diminuiremos as múltiplas arestas que ainda impedem a 
nossa sintonia na execução dos serviços a que fomos chamados, porquanto, o 
problema não deve ser examinado unilateralmente, reconhecendo -se que o serviço 
é de nossa responsabilidade coletiva nos círculos doutrinários".
Pergunta - É verdade que, quando nos reunimos para estudos doutrinários e 
evangélicos, os guias espirituais trazem para o ambiente espíritos necessitados de entendimentos e, por isso, sofredores? Eles lucram, mesmo sem dar comunicação?
Resposta - "Sim. Uma simples conversação evangélica pode beneficiar vasta fileira de ouvintes invisíveis".
Pergunta - O passe mediúnico só é possível através da incorporação ou é viável 
sob a influência do guia?
Resposta - "O passe é transfusão de forças magnéticas de variado teor e pode 
ser administrado sob a influenciação dos desencarnados que se devotam à caridade, 
sem necessidade absoluta de incorporação total na instrumentação mediúnica"
Pergunta - A concepção do “Ide e pregai” é extensível às atividades do trabalhador 
que leva aos morros e bairros pobres a ajuda material, entregue com alegria e 
boas palavras?
Resposta - "Com os atos e as palavras que traduzam o ensinamento vivo do Cristo, 
o “Ide e pregai” pode ser comparado ao “Ide e salvareis”. Conjuguemos o ensino 
com a realização e estaremos expressando Jesus para a região em que vivemos”.
Pergunta - O médium desenvolvido é aquele que se socorre mais pela inspiração 
ou o que se orienta exclusivamente pela comunicação?
Resposta - "Preferimos responder que o médium mais apto ao serviço do bem, 
com os grandes instrutores da vida mais alta, será sempre aquele que se orienta, 
acima de tudo, pela prática viva do Evangelho da redenção”.
Pergunta - E oferecer desencanto às almas das crianças o levá -las em visita aos 
lares pobres, quando da distribuição de auxílios?
Resposta - "Não devemos impor à criança os quadros monstruosos ou infernais 
criados pela nossa indiferença ou pela nossa ignorância na Terra. Mas o cérebro 
e o coração da infância podem ser singularmente auxiliados pela visão gradativa 
dos problemas enormes que a aguardam no futuro, na esfera do sofrimento humano”.
Pergunta - Em razão do constante crescimento das hostes espirituais, o que é visível
 em superfície, é de boa lógica cuidarmos desde já da 2ª linha - as crianças - para que 
elas nos substituam, porém crescidas em profundidade?
Resposta - "Amparemos a inteligência infantil, a fim de que o coração da 
Humanidade fulgure com o Cristo, no porvir sublimado do mundo de amanhã. O Espiritismo, como renascença do evangelismo, é a nova aurora da redenção humana. 
Em suas luzes divinas, a criança pode e deve receber o glorioso roteiro de 
nossa ascensão para a vida superior".
(Altino da Silveira Filho - Entrevista concedida em Pedro Leopoldo. Publicada no
 jornal "Seara Juvenil” em setembro de 195I. Distribuída pelo Centro Espírita Ivon 
Costa. Reeditada pelo Instituto Maria, Depto. Editorial, Juiz de Fora, em 15 de abril
 de 1987.)

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