Entrevista de Chico Xavier
Entrevista ao Jornal Seara Juvenil (1951)
Pergunta: - Já está havendo intensificação na seleção de espíritos para
reencarnação nestes últimos tempos, dadas as freqüentes demonstrações de precocidade?
Resposta - "A intensificação no trabalho seletivo de valores novos para o
mundo regenerado de amanhã, na esfera da reencarnação, vem sendo levada a
efeito de modo gradativo pela Espiritualidade Superior"
Pergunta - Seria de melhor proveito para os Centros Espíritas se dedicar à elucidação
das crianças, embora diminuindo trabalhos de mediunismo?
Resposta - "A assistência à mente infanto juvenil, no campo do Espiritismo Cristão, é serviço básico que não deveríamos descuidar. A educação é obra do tempo,
esforço e paciência. E sem que nos voltemos para a sementeira, com a
dedicação precisa, não alcançaremos a colheita valiosa. Repetimos que a criança
é o futuro, com a preocupação de que os princípios do bem ou do mal que
inocularmos na formação do mundo infantil são vantagens ou desvantagens para
nós mesmos, de vez que o porvir nos espera, de modo geral, em novas
existências. Cremos, assim, que, se necessário, a redução dos trabalhos do
mediunismo, é medida de importância fundamental nas instituições do
Espiritismo Evangélico, favorecendo -se maior expansão da obra de socorro
espiritual à criança, na execução dos nossos programas doutrinários"
Pergunta - Será um mal explicar à criança as finalidades do mediunismo?
Resposta - "O conhecimento, em qualquer de suas modalidades, deve ser
dosado na distribuição que lhe diga respeito. Dentro das possibilidades de
compreensão, em cada classe de aprendizes da nossa consoladora Doutrina,
os ensinamentos rudimentares, acerca do mediunismo, são sempre úteis,
ressalvando, porém, a necessidade de se evitar o excesso em quaisquer
atividades, nesse sentido, para não viciarmos a imaginação infantil com
inutilidades ou inconveniências, que redundariam em prejuízo ou perda de tempo"
Pergunta - É de boa orientação os encarnados preocuparem -se mais com
seus "semelhantes" do que com os desencarnados, nas sessões práticas,
através de estudos metodizados?
Resposta - "Acreditamos que quando a palavra do Senhor nos induziu ao auxílio
ao próximo, naturalmente cogitou do próximo mais próximo de nós. Admitimos,
assim, que sem nos interessarmos fraternalmente pelo progresso e pela iluminação
dos nossos semelhantes, quando encarnados, dificilmente seremos amigos reais ou prestimosos companheiros para os nossos irmãos desencarnados.
Pergunta - Face ao crescimento das juventudes e mocidade espíritas, onde cada
jovem deve ter sua tarefa de serviço, não seria de bom alvitre que todos os
Centros Espíritas organizassem escolas de moral cristã para as crianças?
Resposta - "A escola de preparação infantil ao Evangelho, nos Centros Espíritas,
é um impositivo a que não podemos fugir, sem grave dano institucional para as
nossas edificações doutrinárias do presente e do futuro”.
Pergunta - À vista do conceito de que "a criança é o futuro", estará sendo eficiente,
como cooperadora de Jesus, a Diretoria do Centro Espírita que só se aplica com
sessões mediúnicas?
Resposta - " Há centros de nosso ideal espírita -cristão que naturalmente
funcionam à maneira de pronto socorro para os sofrimentos morais, que
envolvem encarnados e desencarnados. E, quanto a isso, será sempre de bom
alvitre ponderar a especialização de cada agrupamento de companheiros da caridade
e da luz. Entretanto, ainda que não seja de solução imediata o problema da
educação infantil, nos conjuntos que atendem à finalidade a que nos referimos, o
assunto não deve ser considerado indevassável ou inútil, a fim de que a escola de formação evangélica da criança se materialize, junto deles, tão logo se
ofereça a necessária oportunidade.
Pergunta - Como encararmos a criança dentro do Espiritismo Cristão?
Resposta - "Cada criança que surge é nosso companheiro de luta, na mesma
experiência e no mesmo plano, enquanto encarnados, cabendo -nos a
obrigação de oferecermos a ela condições melhores que aquelas em que
fomos recebidos, a fim de que se constitua nosso continuador sobre a Terra
melhor, a que retornaremos mais tarde.
Pergunta - Existem responsabilidades para os pais espíritas que se descuidam do encaminhamento de suas crianças no entendimento do Espiritismo com Jesus?
Resposta - "Os pais são educadores responsáveis e, por isso mesmo, a primeira
escola de cada criatura é o lar em que nasceu. Os dirigentes espíritas do
santuário doméstico são convocados a grandes deveres junto aos filhos que recebem, de vez que são detentores de mais amplos conhecimentos de sublimação espiritual,
diante das leis divinas. Em razão disso, precisamos considerar em Doutrina que
acima dos menores delinquentes permanecem os pais levianos e
voluntariamente irresponsáveis”
Pergunta - É possível a renovação do mundo em que habitamos, a era da reforma interior de cada um para o bem, sem darmos à criança de hoje o embasamento evangélico?
Resposta - "Sem a renovação espiritual da criatura para o bem, jamais chegaríamos ao nível superior que nos compete alcançar. Ajudar a criança, amparando-lhe o desenvolvimento, sob a luz do Cristo, é cooperar na construção da reforma
santificante da Humanidade, na direção do mundo redimido de amanhã”.
Pergunta - O conceito de “Espiritismo Novo” é o de admitirmos que o campo da Terra
nos foi individualmente dedicado e que o "lado de lá" está afeto aos prepostos de
Jesus?
Resposta - "Certamente, o trabalho geral é de cooperação, permuta e de
solidariedade, salientando -se, porém, que a maior percentagem de serviço
dos encarnados está naturalmente concentrada no plano de matéria densa, em
que se agitam os seus semelhantes"
Pergunta - É oportuno o desencadeamento do 'bom médium” em “médium bom” ?
Resposta - "A transformação do bom médium em médium bom é serviço precioso,
de vez que não vale atender a simples fenômenos, destinados a convicções da curiosidade respeitável mas nem sempre construtiva e, sim, aproveitar os valores da Doutrina e incorporá -los à nossa própria experiência, a fim de que o próximo seja
mais feliz e a vida mais elevada e mais digna, ao redor de nós".
Pergunta - O desenvolvimento da mediunidade se processa mais na corrente
mediúnica ou nas ações, palavras e pensamentos de todos os minutos do médium?
Resposta - "O desenvolvimento da sublimação mediúnica permanece na corrente
dos pensamentos, palavras e atos do medianeiro da vida espiritual, quando ajustado ao ministério de fraternidade e luz que a sua tarefa implica em si mesma".
Pergunta - Sendo verdade que o clima mental do médium atrai espíritos condizentes - bons ou maus - como agiremos diante dos médiuns que se dizem inconscientes e
que dão comunicações alternadas e seguidas?
Resposta - "O médium não deve perder de vista a disciplina de si próprio.
A ordem é atestado de elevação".
Pergunta - A tese de mediunidade inconsciente estará sendo estudada e observada
com consciência pela totalidade dos médiuns que se apregoam portadores
de tal mediunidade? Cabe -nos significar -lhes nossas dúvidas ou aguardar o tempo?
Resposta - "Na esfera do mediunismo há realmente incógnitas, que só o esforço
paciente de nossos trabalhos conjugados no tempo conseguirão
solucionar. Incentivemos o estudo e o auxílio, dentro da solidariedade
cristã e, gradativamente, diminuiremos as múltiplas arestas que ainda impedem a
nossa sintonia na execução dos serviços a que fomos chamados, porquanto, o
problema não deve ser examinado unilateralmente, reconhecendo -se que o serviço
é de nossa responsabilidade coletiva nos círculos doutrinários".
Pergunta - É verdade que, quando nos reunimos para estudos doutrinários e
evangélicos, os guias espirituais trazem para o ambiente espíritos necessitados de entendimentos e, por isso, sofredores? Eles lucram, mesmo sem dar comunicação?
Resposta - "Sim. Uma simples conversação evangélica pode beneficiar vasta fileira de ouvintes invisíveis".
Pergunta - O passe mediúnico só é possível através da incorporação ou é viável
sob a influência do guia?
Resposta - "O passe é transfusão de forças magnéticas de variado teor e pode
ser administrado sob a influenciação dos desencarnados que se devotam à caridade,
sem necessidade absoluta de incorporação total na instrumentação mediúnica"
Pergunta - A concepção do “Ide e pregai” é extensível às atividades do trabalhador
que leva aos morros e bairros pobres a ajuda material, entregue com alegria e
boas palavras?
Resposta - "Com os atos e as palavras que traduzam o ensinamento vivo do Cristo,
o “Ide e pregai” pode ser comparado ao “Ide e salvareis”. Conjuguemos o ensino
com a realização e estaremos expressando Jesus para a região em que vivemos”.
Pergunta - O médium desenvolvido é aquele que se socorre mais pela inspiração
ou o que se orienta exclusivamente pela comunicação?
Resposta - "Preferimos responder que o médium mais apto ao serviço do bem,
com os grandes instrutores da vida mais alta, será sempre aquele que se orienta,
acima de tudo, pela prática viva do Evangelho da redenção”.
Pergunta - E oferecer desencanto às almas das crianças o levá -las em visita aos
lares pobres, quando da distribuição de auxílios?
Resposta - "Não devemos impor à criança os quadros monstruosos ou infernais
criados pela nossa indiferença ou pela nossa ignorância na Terra. Mas o cérebro
e o coração da infância podem ser singularmente auxiliados pela visão gradativa
dos problemas enormes que a aguardam no futuro, na esfera do sofrimento humano”.
Pergunta - Em razão do constante crescimento das hostes espirituais, o que é visível
em superfície, é de boa lógica cuidarmos desde já da 2ª linha - as crianças - para que
elas nos substituam, porém crescidas em profundidade?
Resposta - "Amparemos a inteligência infantil, a fim de que o coração da
Humanidade fulgure com o Cristo, no porvir sublimado do mundo de amanhã. O Espiritismo, como renascença do evangelismo, é a nova aurora da redenção humana.
Em suas luzes divinas, a criança pode e deve receber o glorioso roteiro de
nossa ascensão para a vida superior".
(Altino da Silveira Filho - Entrevista concedida em Pedro Leopoldo. Publicada no
jornal "Seara Juvenil” em setembro de 195I. Distribuída pelo Centro Espírita Ivon
Costa. Reeditada pelo Instituto Maria, Depto. Editorial, Juiz de Fora, em 15 de abril
Nenhum comentário:
Postar um comentário