sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

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diaba
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O médico carioca residente em Porto Alegre desde os anos 50, Dr. José Lacerda, espírita que era então, começou a realizar atividades mediúnicas normais numa pequena sala de Hospital Espírita de Porto Alegre e ali realizou investigações pessoais que desaguaram no movimento denominado Apometria.
Não irei entrar no mérito nem no estudo da Apometria, porque eu não sou apômetra: eu sou espírita, mas o que posso dizer é que a Apometria, segundo os seus próprios seguidores, não é Espiritismo. Suas práticas estão em total desacordo com as recomendações de “O Livro dos Médiuns”.
A presunção de alguns chegou a afirmar que a Apometria é um passo avançado ao Movimento Espírita e que Allan Kardec encontra-se totalmente ultrapassado, já que sua proposta era para o século XIX e parte do século XX, e que a Apometria é o degrau mais evoluído. A prática e os métodos violentos de libertação dos obsessores que este e outros métodos correlatos apresentam, a mim me parecem tão chocantes que me fazem recordar da lei de talião, que já foi suavizada por Moisés, com o código legal, e que Jesus sublimou através do amor.
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kardequizar
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De acordo com aqueles métodos, quando as entidades são rebeldes os doutrinadores, depois de realizarem uma contagem cabalística ou um gestual muito específico, as expulsam com violência para o magma da Terra, substancia ainda em ebulição do nosso planeta, ou as colocam em cápsulas espaciais que são disparadas para o mundo da erraticidade.
Não iremos examinar a questão esdrúxula desse comportamento, mas se eu, na condição de espírito imperfeito que sou, chegasse desesperado num lugar pedindo misericórdia e apoio à minha loucura, e outrem, o meu próximo, me exilasse para o magma da Terra, para eu experimentar a dureza de um inferno mitológico, ou ser desintegrado, ou se me mandassem expulso da Terra numa cápsula espacial, renegaria aquele Deus que inspirou esse adversário da compaixão.
A Doutrina Espírita, baseada no ensino de Jesus, centraliza-se no amor e todas essas práticas novas, das mentalizações, das correntes mento-magnéticas, psicotelérgicas, que, para nós, espíritas, merecem todo respeito, mas não tem nada a ver com Espiritismo. O mesmo se dá com as práticas da Terapia de Existências Passadas realizadas dentro da casa espírita ou da cromoterapia ou da cristalterapia, que fogem totalmente da finalidade do Espiritismo.
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A Casa Espírita não é uma clínica alternativa. Não é lugar onde toda experiência nova deve ser colocada em execução. Tenho certeza de que aqueles que adotam esses métodos novos não conhecem as bases kardequianas e, ao conhecerem-nas, nunca as vivenciaram.
Temos todo o material revelado pelo mundo espiritual nestes tantos anos de codificação, no Brasil e no mundo, pela mediunidade incomparável de Chico Xavier; as informações que vieram pela notável Yvonne do Amaral Pereira; por Zilda Gama e por tantos médiuns nobres conhecidos e desconhecidos.
Então, se alguém prefere a Apometria, divorcie-se do Espiritismo. É um direito! Mas não misture para não confundir. A nossa tarefa é de iluminar, não é de eliminar. O espírito mau, perverso, cruel é nosso irmão na ignorância. Poderia haver alguém mais cruel do que o jovem Saulo de Tarso? Ele havia assassinado Estevão a pedradas, havia assassinado outros, e foi a Damasco para assassinar Ananias. Jesus não o colocou numa cápsula espacial e disparou para o infinito. Apareceu a ele! Conquistou-o pelo amor. “Saulo, Saulo, por que me persegues?” pode haver maior ternura nisso? E ele tomado de espanto perguntou: “Que é isto?” “Eu sou Jesus, aquele a quem persegues”. E ele, então, caiu em si. Emmanuel ensina que o termo “caindo em si” significa que a capa do ego cedeu lugar ao encontro com o ser profundo. Ele despertou, e graças a ele nós conhecemos Jesus pela sua palavra, pelas suas lutas, pelo alto preço que pagou, apedrejado várias vezes, jogado por detrás dos muros nos lugares do lixo, foi resgatado pelos amigos e continuou pregando.
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Então, os espíritos perversos merecem nossa compaixão e não nosso repúdio. Coloquemo-nos no lugar deles.
Não temos nada contra a Apometria, as correntes mento-magnéticas, aquelas outras de nomes muito esdrúxulos e pseudocientíficos. Mas, como espíritas, nós deveremos cuidar da proposta Espírita.
Na minha condição de Espírita, exercendo a mediunidade por mais de 60 anos, os resultados têm sido todos colhidos na árvore do amor e da caridade e a nossa mentalidade espírita não admite ritual, gestual, gritaria, nem determinados comportamentos.
* Transcrito do Programa Presença Espírita, da Rádio Boa Nova, a partir de palestra de Divaldo Pereira Franco.
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brunooyellowMeus queridos amigos e irmãos, eis aí um artigo necessaríssimo da querida revista “Fidelidade Espírita”, de Campinas-SP, cujo editor é o querido escritor e médium Emanuel Cristiano. Desta vez com o querido médium e tribuno espírita, Divaldo Franco, quando de sua participação no programa “Presença Espírita”. O Movimento Espírita precisa acordar de maneiras “Très Urgent”, com urgência urgentíssima, para essas falsas práticas e doutrinas que abundam hoje em muitas casas espíritas, semeando a confusão doutrinária e, o pior, deturpando completamente a prática espírita.
Que Jesus abençoe as sentinelas firmes como essa, revistas e publicações, que abrem os olhos principalmente dos adeptos mais novos, que são toda uma leva que chega com a santa fome do verdadeiro alimento espírita!
Bruno Tavares

Chico Xavier fala sobre os quinhentos 

da Galiléia Eles têm reencarnado...

Contou-nos o Chico que, algum tempo após a crucificação de Jesus, das milhares de pessoas que O ouviram, uma multidão inumerável combinou de se encontrar às margens do mar da Galiléia, mas somente quinhentas tiveram coragem de comparecer. Eram tempos de cruéis perseguições.
Estavam há muito tempo em oração sobre a areia, quando uma luz muito intensa brilhou na amplidão e começou a descer em direção a eles. Quando estava muito próxima, puderam verificar que era Jesus, o Mestre Divino, que vinha ter com eles envolto em belíssima luz dourada.
Conversou demoradamente e, quando se despediu, deixou-os cheios de uma coragem até então desconhecida.
Esses quinhentos ficaram, então, conhecidos como "os quinhentos da Galiléia" e fizeram o propósito de trabalhar incessantemente pela humanidade. Eles têm reencarnado sucessivamente para nos ajudar a sair do pântano em que nós mesmos nos atiramos.
Livro: Kardec Prossegue
Autor:Adelino da Silveira

A Segunda Morte

Em várias obras de André Luiz, através da psicografia de Francisco Cândido
Xavier: A Segunda Morte.
Chico Xavier costumava dizer, para alguns amigos, que os espíritas
estavam muito enganados a respeito do mundo espiritual, porque, na verdade,
faziam uma ideia que não correspondia à realidade; uma ideia um tanto quanto
mística, sobrenatural e extraordinária, como se fosse uma vida completamente
diferente da vida que vivenciamos aqui, no orbe terrestre.
O mundo espiritual é constituído por múltiplas dimensões e o correto é
falar no plural: mundos espirituais ou planos espirituais ou dimensões
espirituais. “Há muitas moradas na casa do Pai”, como Jesus já nos dissera.
André Luiz, através da mediunidade de Chico Xavier, trouxe-nos uma
obra revolucionária, todavia, carece de ser estudada, meditada e não somente
lida, para nos inteirar do seu extraordinário conteúdo de informações.
É possível que alguém já tenha ouvido falar a respeito da segunda morte,
ou jamais ouviu ou leu sobre este assunto. Muitos estão pensando: "Mas, não é
possível! Será que morrer uma vez só não basta? Já é difícil enfrentar a morte,
aqui, no plano físico e vamos ter que enfrentar, também, a morte no plano
espiritual? Vamos ter que morrer do outro lado?”
O espírito Dr. Inácio Ferreira nos fala: “Meu filho, não é só a segunda,
não. Tem a terceira, a quarta, a quinta”.
Haveremos de morrer até sermos completamente despojados de nossos
envoltórios, até atingirmos a condição de espírito puro, ou seja, até alcançarmos
a nossa plena imortalidade.
Acontece, porém, que além do corpo físico, que também podemos
considerar um corpo espiritual, possuímos diversos corpos espirituais. Um dia,
nos despojaremos desse corpo físico, através do fenômeno denominado morte.
Somos dotados de outro corpo, menos grosseiro, chamado períspirito, que
um dia, igualmente, haveremos também de nos despojar. Então, nos
apresentaremos através do corpo mental.
Para que possamos alcançar a condição de pureza, precisamos de vida em
vida, de dimensão em dimensão, irmos despojando-nos de diferentes
envoltórios.
André Luiz nos fala, em suas obras, que no plano espiritual imediato, para
que o espírito possa se transferir para o próximo plano espiritual mais elevado,
necessita deixar seu corpo mais grosseiro, que nós denominamos períspirito.
Eu me recordo de Chico Xavier conversando conosco, em Uberaba,
dizendo assim: "Somos portadores de sete corpos. Para alcançarmos a
perfeição e deixarmos de reencarnar em qualquer dimensão espiritual,
precisamos nos livrar desses sete corpos”.
Então, a morte não existe, sequer, neste plano, porque a morte não passa
de um fenômeno periférico, um fenômeno de libertação; é um fenômeno que
também acomete o períspirito, do outro lado da vida.
Não somos nós que estamos dizendo isso. Quem nos explica é André
Luiz, nos livros Os Mensageiros, Missionários da Luz, Obreiros da Vida Eterna,
Libertação, Evolução em Dois Mundos. Acompanhemos algumas de suas
colocações para modificarmos a nossa concepção de “mundo espiritual, de vida
no plano espiritual”.
Dr. Inácio Ferreira comenta: "Meu filho, muitos espíritas ainda pensam
com a cabeça de um católico. Acham que o plano espiritual e que o Céu só
mudaram de nome. Deixou de ser Céu para ser plano espiritual. O paraíso
mudou de nome. Deixou de ser Éden para ser Nosso Lar”.
Precisamos entender que não é assim. O mundo espiritual é uma dimensão
onde a vida se manifesta, como se manifesta sobre a Terra.
Chico Xavier, certa vez, conversando com um repórter materialista, teve a
oportunidade de esclarecer. Chico disse assim: "A vida, o Universo é como se
fosse uma cebola partida ao meio. O que enxergamos? Diversas camadas. Cada
camada corresponde a uma dimensão. Vivemos, apenas e tão somente, numa
camada da cebola. A Terra não é mais que uma camada da cebola. O plano
espiritual é a próxima camada da cebola. Mas para que possamos subir a uma
esfera mais elevada, precisamos perder peso, ou seja, precisamos ocupar
corpos cada vez mais diáfanos, aperfeiçoados, cada vez mais etéreos, menos
grosseiros”.
Então, o repórter materialista disse ao Chico: "Ah, foi por isso que Jesus
falou que há muitas moradas na casa do Pai?"
E Chico respondeu: "Sim, há muitas cebolas na casa do Pai." E
acrescentou: "Na realidade, Deus é um plantador de cebolas".
E o repórter perguntou ao Chico: "E quando a gente chegar à última
camada da cebola?"
Chico respondeu: "Você poderá escolher. Terá o Universo à sua
disposição. Poderá ir para onde desejar. Por enquanto, estamos onde a Lei
determina. Mas, quando atingirmos tal posição, poderemos escolher”.
É como me disse, certa vez, o Dr. Inácio Ferreira: “Meu filho, quando
você desencarnar vai para o mundo espiritual. Agora, só falta só falta saber para qual deles"
André Luiz nos fala sobre a segunda morte, em Os Mensageiros, capítulo
20, sob o título: “Defesas contra o mal”, e observem que esta obra foi
psicografada em 1944, há quase 70 anos, e, no entanto, ninguém fala sobre o
assunto. Parece ser um assunto que dá sentimento de culpa aos espíritas, que têm
medo de falar sobre isto e desanimar todo mundo, não é mesmo?
Tem muita gente pensando assim: "Nossa, eu já estou fazendo uma força
danada para morrer uma vez, e tem outra morte do lado de lá?”. À medida que
vamos evoluindo, a desencarnação deixa de ter este aspecto de horror e
constrangimentos que existem nos planos inferiores.
No mesmo capítulo 20, André Luiz conversava com o mentor que lhe
dizia que em determinada casa assistencial, localizada na região das trevas,
existia um sistema de defesa para que aquela instituição não fosse tomada de
assalto pelos espíritos das trevas, invadida e depredada. André Luiz viu algumas
armas na muralha e perguntou ao mentor se as armas disparavam projetis, e se
poderiam ferir e causar algum dano, levando à morte?
E o mentor explicou: "Nossos projetis expulsam os inimigos do bem,
através das vibrações do medo, mas poderiam causar a ilusão da morte”.
Para nós espíritas, aqui na Terra, a morte existe? Quando alguém atira ou
atenta contra a vida de alguém está matando? Não. Não mata, porque a morte
não existe. O atirador está provocando apenas o desenlace, o desencarne do
corpo físico. É o fenômeno da desencarnação. Não é correto dizer que fulano
matou beltrano. Isso não existe. Poder-se-ia dizer que, pela ótica espírita, fulano
despojou beltrano de seu corpo físico, porque a individualidade não desaparece.
O espírito não desaparece. O que ocorre é o despojamento.
Claro que essa atitude não se justifica. Não se justifica porque a morte não
existe. Porém, há uma violência. Não quer dizer que não deve haver punição,
nem haver combate à violência.
Então, sobre a Terra, a morte é uma ilusão que afeta os sentidos. Porém, a
morte não existe, mas causa a ilusão de morte atuando sobre o corpo dos nossos
semelhantes. A morte física não é igualmente dura impressão, aqui na Terra?
Eu costumo citar o diálogo de Krishna com a Arjuna, que está no livro
Bhagavad-gita: Krishna tenta convencer Arjuna, seu discípulo guerreiro, em
pleno campo de batalha, em que ele não queria guerrear contra seus parentes e
matá-los. Então, Krishna lhe faz a seguinte pergunta: "Afinal de contas, você vai
matar quem?". Quem mata quem?
(Bagavadguitá ou Bhagavad-gita, texto religioso hindu. Krishna é figura
central do Hinduísmo, encarnação de Vishnu, forma suprema de Deus.
Arjuna representa o papel de uma alma confusa sobre seu dever e recebe
iluminação diretamente do Senhor Krishna.)
A rigor, ninguém elimina a vida de ninguém. Ninguém tem esse poder. A
não ser Deus. Somente Deus. Como Deus daria o poder a qualquer criatura
imperfeita de desfazer completamente aquilo que Ele criou? Isso seria um
absurdo!
Em Missionários da Luz, quando André Luiz descreve a reencarnação de
Segismundo, há um novo esclarecimento a ser feito, a respeito da questão
perispiritual: “O períspirito, sendo um corpo semimaterial, para viver no plano
espiritual, será que adoece, continua envelhecendo? Será que do outro lado da
vida existe a eterna juventude?”
Na Terra, estamos sujeitos a este fenômeno do envelhecimento e também
estamos sujeito ao desgaste do corpo.
São perguntas que precisamos fazer porque pensamos que os espíritos, do
outro lado, rejuvenescem. Ficamos com a impressão que todos, do outro lado,
são jovens. É uma coisa miraculosa! Quem desencarnou aos 90 ou 100 anos, se
apresenta do outro lado com 15 ou 18 anos?
O que acontece com um espírito que desencarnou há mais de 50 anos e
volta a reencarnar? O que acontece com um espírito que fica 100 anos no plano
espiritual sem reencarnar? Será que lá é um lugar de eterna juventude?
Voltando a falar da reencarnação de Segismundo, André Luiz pergunta ao
instrutor Alexandre: "Mas o organismo perispirítico de Segismundo não é o
mesmo que ele trouxe da crosta, quando desencarnou pela última vez? Sim,
concordou o orientador. Tem a mesma identidade essencial”.
Vamos prestar bastante atenção nisso porque o esclarecimento é de uma
beleza, de uma profundidade e de ensinamentos extraordinários.
"Todavia, com o curso do tempo, em vista da nova alimentação...”
Vejam bem: o espírito, no plano espiritual, se alimenta, porque o
períspirito ainda é um corpo que necessita ser alimentado, certamente, muito
menos, mas, com certeza, muito melhor.
"Todavia, com o curso do tempo, em vista da nova alimentação e novos
hábitos em meio a mundo adverso, incorporou determinados elementos de
nossos ciclos de vida".
Já pensaram que para reencarnar na Terra o espirito tem que deixar do
outro lado seu períspirito grosseiro, e vir com um períspirito sutil para
reencarnar na Terra? Já pensaram que para reencarnar tem que morrer do outro
lado?
Dr. Inácio nos fala o seguinte: "Morrer é força de expressão. Essa palavra
não existe. Futuramente, como dizem os espíritos, a palavra morte será abolida.
Morre quando sobe e morre quando desce. Morre quando desce porque
reencarna e deixa no plano espiritual um períspirito grosseiro”.
Certa vez, Chico Xavier conversava com dona Heigorina Cunha, de
Sacramento, MG (sobrinha de Eurípedes Barsanulfo), sobre o livro Imagens do Além, e disse-lhe: "Olha, Heirgorina, quando o espírito vem reencarnar na terra,Terra, deixa seu períspirito grosseiro no mundo espiritual, como a cobra larga a
casca".
Heigorina perguntou ao Chico: "O que é que acontece com o períspirito
grosseiro? Some? Desintegra?”
Chico Xavier respondeu-lhe: "Não, ele é enterrado. Hoje, certamente, é
cremado. Claro, hoje as coisas evoluem”.
Até hoje, ninguém sabe o que aconteceu com o corpo de Jesus Cristo.
Teria desaparecido? Porque o corpo de Jesus era um corpo tão superior ao nosso
que não se sujeitou à degradação. Ele, com seu poder, fez com que seu corpo se
desintegrasse. Jesus não precisava de ajuda nem para encarnar e nem
desencarnar. Fez isso sozinho.
Às vezes ficamos uns trinta anos sem ver uma pessoa. Ela muda tanto
que, após trinta anos, acabamos por não reconhecê-la. No mundo espiritual
também é assim. O que isso quer dizer?
Por exemplo, nos habituamos a ver o espírito Dr. Bezerra de Menezes
como era quando desencarnou (11/04/1900), aos 69 anos de idade, não é
mesmo? Dr. Bezerra de Menezes já se encontra no plano espiritual há 113 anos.
Ele se apresentará com a aparência como desencarnou, mas pode ser que
no plano espiritual, ele já tenha outra aparência, porque o tempo também vai
passando do outro lado da vida, porém, não da forma como imaginamos.
Quando um espírito familiar se comunica e é recente seu desencarne, é
fácil sua identificação, porque ainda são as mesmas ideias, vocabulário,
pensamento. Mas, após trinta anos é provável que já tenha mudado suas ideias e,
em sua uma mensagem, não será reconhecido.
Pensamos hoje a mesma coisa que pensamos há trinta anos? Nem mesmo
há uma semana! Tomara que isso sempre aconteça para o bem, não para o mal.
Com o Espiritismo, uma doutrina que nos ensina e informa tanto, melhorar  monos
cada vez mais.
Então, André Luiz, surpreso, perguntou: “Não teremos no plano espiritual
fato semelhante à morte física da crosta?”
O instrutor Alexandre confirmou: “Sem dúvida, desde que consideremos a
morte do corpo carnal como simples abandono de envoltórios atômicos
terrestres”.
Afinal, o que é a carne? É molécula, é átomo. Química. No fundo, carne é
energia. Mas porque que comemos? Comemos para termos energia para o corpo.
O paladar é para tornar o comer agradável.
O que é a morte? O abandono de simples envoltórios atômicos terrestres.
E André Luiz prossegue ouvindo o instrutor Alexandre dizendo: "Tenho
acompanhado vários amigos na tarefa reencarnacionista, quando atraídos por
imperativos de evolução e redenção, tornam ao corpo de carne. Outras vezes,
raras, aliás, tive notícias de amigos que perderam o veículo perispiritual”.
Está muito claro o que o instrutor espiritual falou: “Perderam o veículo
perispiritual conquistando planos mais altos”. Isto está explícito, não está
implícito, não.
Este é o objetivo da “chamada morte” que não existe. Estagiarmos em
diversas dimensões até alcançarmos a imortalidade plena, que significa não
estarmos mais sujeitos ao renascimento em nenhum corpo físico.
O que é o espírito? Não é qualquer envoltório, qualquer corpo. O
espírito é como se fosse aquela pedrinha de diamante que está escondida.
Está tão sufocada, tão envolvida que para se encontrar esse diamante é
necessário muita procura. O espirito está no centro da busca, é aquela luz, é
apenas luz, porque o espírito não tem forma.
Aqui na Terra, precisamos dizer a todo mundo quem somos para não nos
perdermos de nós mesmos. Emmanuel diz que a conquista do ego é a nossa
maior proeza, até agora. Individualizamo-nos. Deixamos de ser mineral, vegetal,
animal, entramos para o reino hominal.
Chegará o momento que perderemos o ego. Teremos que trocar o ego pelo
superego. Vamos perder tudo o que nos caracteriza: o sexo definido porque o
espírito não tem sexo; perder a cor, a raça, o nome, o tamanho. Vamos perder
tudo isso, mas sobreviveremos, preservando a nós mesmos.
Jesus Cristo disse: “O Pai e eu somos um”. Ele é o Pai e eu sou o filho,
Ele é o Criador e eu sou a criatura. Teremos de chegar ao ponto de, como Jesus
Cristo, que não tinha nome. O nome lhe foi dado por Maria e por José. Não
tinha sobrenome. Passou a ser chamado de Jesus de Nazaré. O anjo Gabriel O
chamou de Emanuel. Mas Emanuel não é nome, pois significa Deus Conosco.
Como somos atrasados, precisamos de pontos de referência. Por exemplo:
“Eu vivo na Via Láctea, no sistema solar, no planeta Terra, na América do Sul,
no país chamado Brasil, nasci na cidade de São Paulo, sou filho de fulano e
beltrano, meu nome é tal, a cor dos meus olhos é tal, meus cabelos tem tal a cor,
este é meu nome e este é meu sobrenome, minha carteira de identidade é esta e o
meu CIC é este”.
Temos um punhado de rótulos pendurados em nossos pescoços. Se não
tivéssemos esses rótulos, não saberíamos nos localizar. Precisamos aprender a
viver sem pontos de referências. Claro que isso vai demorar.
No livro Libertação, capítulo 6, de 1949, foi dito a André Luiz que o vaso
perispirítico é também transformável e perecível, embora estruturado em tipo de
matéria mais rarefeita.
No livro Evolução de Dois Mundos, capítulo 2, de 1958, diz que o
períspirito pode também desgastar-se na esfera imediata, quer dizer, no plano
espiritual imediato. Pode se refazer através do renascimento. Isso é reencarnação
espiritual segundo molde mental pré-existente, porque todos nós reencarnamos
segundo um molde mental pré-existente.
Aqui na Terra, o nosso molde, é o molde do períspirito. E qual é o molde
do períspirito? É a mente. É o molde mental pré-existente. Ou ainda restringirse,
a fim de se reconstituir novamente no vaso uterino para a recapitulação.
Simplificando. Existem espíritos que, entre aspas, morrem para cima e
para baixo. Quando morrem para cima, eles deixam o períspirito e vão viver
numa dimensão onde o corpo, é o corpo mental. Nessa dimensão o corpo mental
também morre. Sim. Deixa-se o corpo mental para subir para uma dimensão
mais alta, onde se vive através do corpo supra mental.
E para baixo, também se morre? Sim. Quando o espírito vai reencarnar,
morre, deixando o perispírito e reencarna na Terra em um corpo físico grosseiro,
ou então, não reencarnando na Terra, transformam-se em espíritos chamados
“ovoides”.
O que é o ovóide? Quem já leu o livro Libertação, de André Luiz? Tem
que ler. Ele explica sobre “ovóide”. É um espírito encapsulado. Sem forma. Um
corpo ovóide inferior.
O que é o espírito superior? É o mesmo corpo ovóide, só que em forma de
luz. Um, é o pingo de treva; outro, é uma estrela.
Aqui temos o princípio, daquilo que o Dr. Inácio Ferreira chamou de
"Reencarnação em um Mundo Espiritual".
No livro Imagens do Além, capítulo 7, de 1994, Chico Xavier fala que
assim que se inicia a fase do sono letárgico, o sono da morte, o corpo espiritual
vai se despojando da matéria grosseira, ficando o perispírito sutil, sem trazer
prejuízo algum. O despojo da matéria grosseira é enterrada em lugar próprio: no
cemitério.
Pode-se dizer que neste plano espiritual imediato também existem lugares
correspondentes aos nossos cemitérios e aos nossos crematórios, na Terra. À
medida que se vai morrendo e subindo, o ato de morrer vai perder este horror
terreno, porque mais e mais vai sendo entendido como libertação, como sendo
emancipação espiritual, como sendo independência espiritual.
Nas esferas superiores, quando o espírito pressente-se que vai
desencarnar, para ir a outra dimensão, ou para voltar à Terra, dirige-se a um
determinado lugar, se acomoda, se concentra e sai naturalmente do corpo.
Na Terra, ainda existe “aquela coisa fúnebre”, a cultura da morte. Quando
é que nos libertaremos dessa cultura que nos aterroriza e nos apavora?
Nossa vida é crescimento, é aprendizado, é aquisição de sabedoria, como
exercício, e vale muito em todos os aspectos. Esta vida vale muito, como todas
as outras vidas.
Chegará um momento que encararemos a morte não como sendo uma
coisa horrível, que nos apavora, mas sim como libertação do espírito.
Nesta tarde (23/03/2013), meditando sobre este tema, que não é nada
comum ser abordado nas Casas Espíritas, convidamos a todos para percorrer as
obras de André Luiz e estudá-las com mais atenção, porque estão repletas de
informações que nos possibilitarão compreender melhor como é a vida no outro lado da vida, e não permaneçamos na ilusão. O mundo espiritual é uma
dimensão onde a vida se manifesta.
Muitos dizem que em uma próxima reencarnação querem escolher melhor
a família, o corpo físico, a profissão; querem ser felizes e ter mais saúde. Podem
perder as esperanças. As escolhas estão sendo feitas agora. Escolhemos agora
com nossas atitudes. As escolhas não são feitas com palavras.
Palestra proferida em 23 de março de 2013,
na Instituição Beneficente “A Luz Divina”.
Carlos Antônio Baccelli nasceu em Uberaba (MG), em 09/11/1952. Formado
em Odontologia. Médium psicógrafo, palestrante, escritor, é autor de várias
obras espíritas, embasadas no Evangelho e na Doutrina Espírita.
Baccelli tem programa semanal "Na Próxima Dimensão", na Rádio Boa Nova
AM-1450 Khz, em Guarulhos - SP, toda quinta-feira das 13h às 13h30.
Psicografia – Lar Espírita Pedro e Paulo - Av. Padre Eddie Bernardes da Silva,
775 – Bairro de Lourdes - 38035-230 – Uberaba – MG. - Caixa Postal 404.
Instituição Beneficente “A LUZ DIVINA”
CARLOS A. BACCELLI

REVISTA ÉPOCA : A EXPLOSÃO DA CULTURA ESPÍRITA. A RELIGIÃO ASSUME UMA FACE MODERNA E CRESCE ENTRE OS JOVENS !

A top model Raica Oliveira, de 22 anos, foi criada na religião espírita. Nascida em Niterói, a namorada do craque Ronaldo mora hoje a maior parte do ano em Nova York por conta de compromissos profissionais. Quando está nos Estados Unidos, Raica vai ao centro Casa São José, na cidade vizinha de New Jersey, freqüentado por brasileiros como Divaldo Pereira Franco e Raul Teixeira - considerados médiuns pelos adeptos da doutrina. "Do que mais gosto na minha religião é a idéia de que podemos sempre voltar à Terra de novo e aperfeiçoar nosso espírito", diz Raica, o rosto do espiritismo jovem. "Sempre temos uma segunda chance."
Raica, Raul e Divaldo são, segundo uma reportagem publicada recentemente no jornal americano The New York Times, as faces visíveis de um novo fenômeno: a abertura de centros espíritas nos Estados Unidos dirigidos por brasileiros, freqüentados pela comunidade latina e também por americanos. O Brasil não é apenas o maior país católico do mundo. É também a nação com maior número de espíritas, cerca de 20 milhões de pessoas, segundo os números oficiais. E, agora, tornou-se também o principal pólo difusor da religião fundada e sistematizada pelo francês Allan Kardec.
Quais as características desse espiritismo que o Brasil professa e exporta? Pode-se dizer que o rosto de Raica, uma das mulheres mais bonitas do país, é a face-símbolo de uma nova fase na religião. Esqueça os copos que se movimentam sozinhos sobre a mesa branca, as operações com canivete e sem anestesia do médium Zé Arigó e as sessões de exorcismo coletivo transmitidas pelo rádio. Isso tudo ainda existe, mas o crescimento e a exportação da doutrina se devem principalmente a seu lado menos místico e mais racional.
Esse "novo espiritismo" preserva os pilares básicos da religião: a imortalidade do espírito, sua reencarnação e evolução, além da possibilidade de comunicação entre vivos e mortos. Mas se baseia muito mais em leituras e na introspecção que em rituais ou sessões que invocam supostas forças do além. São incentivadas também as duas práticas mais fortes da doutrina: a caridade e a tolerância religiosa. O espiritismo vem crescendo no Brasil, principalmente entre jovens de classe média. No site de relacionamentos Orkut, já existem 366 comunidades sobre "espiritismo" e outras 808 quando se busca a palavra-chave "espírita".
A maior delas se chama simplesmente Espiritismo. Tem 183.546 membros. Lá, as discussões variam desde assuntos simples, como o lançamento de um livro, até questões teóricas mais elaboradas, como a relação entre espíritos e Física Quântica. Curiosamente, a palavra "catolicismo" registra apenas 34 comunidades, e "católico" 421.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística calcula que a doutrina espírita tem 20 milhões de adeptos no Brasil, afora os que professam o espiritismo como segunda religião. A doutrina cresceu cerca de 40% entre os últimos dois censos. Os dados do IBGE mostram que esse crescimento se deu principalmente nos estratos mais ricos e escolarizados da população. A renda dos espíritas é 150% superior à média nacional, e 52% deles ganham acima de cinco salários mínimos. Entre os espíritas, 77% têm entre oito e 15 anos de escolaridade, dez anos em média a mais que os católicos.
Além de Raica Oliveira, outras celebridades vêm aderindo ao espiritismo, embora poucas alardeiem professar a crença. Boa parte prefere tratar o assunto como algo privado. É o caso da atriz Cleo Pires, que herdou a fé de seu pai, o cantor Fábio Júnior, e dos avós maternos. O tenista Gustavo Kuerten recentemente se submeteu a um tratamento espírita, levado por seu fisioterapeuta, Nilton Petrone - o mesmo de Xuxa e Romário.
Sofrendo de dores nos quadris que o derrubaram do primeiro para o 452o lugar no ranking do esporte, Guga, aos 29 anos, recorreu a um tratamento espiritual no Lar do Frei Luiz, centro espírita da zona oeste do Rio. "Foi minha primeira experiência com o espiritismo. Estou mais calmo e equilibrado", disse Guga a ÉPOCA. Tecnicamente, o tratamento, ocorrido no dia 10 de junho, não foi uma cirurgia, pois não houve cortes. Guga seguiu o procedimento-padrão do centro. Primeiro, ficou por mais de uma hora na sala de orações, com mais de 50 pessoas. Depois, foi com um pequeno grupo para uma sala escura. "O tratamento espiritual não substitui a fisioterapia, apenas a complementa", diz Nilton Petrone.
O novo espiritismo que atrai gente como Raica ou Guga engendrou algo que se pode chamar de "cultura espírita". É natural, numa religião em que a leitura prevalece cada vez mais sobre o ritual, que a faceta mais visível dessa cultura sejam os livros. Vários deles atingiram a lista dos best-sellers. Sozinho, o mineiro Chico Xavier, morto em junho de 2002 e considerado o maior dos médiuns pelos adeptos da religião, vendeu (e ainda vende) 25 milhões de exemplares de seus mais de 400 livros, todos supostamente psicografados. Zibia Gasparetto, de 78 anos, já vendeu 5 milhões de exemplares de obras que afirma ter psicografado. Há dez anos não sai da lista dos dez best-sellers nacionais. Outro sucesso nas livrarias foi a coletânea de entrevistas Encontro com Médiuns Notáveis, escrita pelo músico e pesquisador Waldemar Falcão. O jornalista Marcel Souto Maior chegou à casa dos 300 mil exemplares nos últimos dez anos, desde que lançou a biografia As Vidas de Chico Xavier. O livro vai servir de base para um filme, com direção de Daniel Filho e lançamento previsto para o ano que vem.
A principal característica da cultura espírita é que ela ultrapassa os adeptos da doutrina e até aqueles que têm o espiritismo como segunda religião. Para além dos livros que fazem sucesso com leitores de todas as crenças, os programas de televisão que tratam do assunto sempre conseguem uma larga audiência. Transmitida até o início deste ano, a novela Alma Gêmea, da TV Globo, teve o melhor Ibope do horário das 6 na última década, impulsionada por uma história de reencarnação. Quando o folhetim foi ao ar, a Globo fez uma pesquisa qualitativa para saber a aceitação do tema entre os espectadores. Mesmo os que não eram espíritas aprovaram enfaticamente a trama e os personagens. Quando terminar Sinhá Moça, que está no ar com resultados inferiores aos de Alma Gêmea, entrará no ar O Profeta. Nova versão da novela de Ivani Ribeiro dos anos 70, na Tupi, a trama gira em torno de espiritismo e mediunidade. Na nova versão de O Profeta, o protagonista será interpretado pelo ator Thiago Fragoso. "O telespectador gosta de assuntos que o levem a pensar sobre o que somos, para onde iremos", diz Walcyr Carrasco, autor de Alma Gêmea e supervisor da adaptação de O Profeta.
O diretor-geral do programa Linha Direta, da TV Globo, Milton Abirached, diz que se assustou com a repercussão dos episódios que tocaram no tema do espiritismo. "No ano passado, a história sobre cartas psicografadas de 13 mortos do Edifício Joelma (prédio paulista que pegou fogo em 1974 e deixou 189 mortos) deu 30 pontos de audiência à meia-noite", afirma. Em julho, de olho na curiosidade do público, esses episódios serão reunidos em DVD. Outro programa da série conseguiu boa audiência relatando um caso curioso. No fim de maio, no município gaúcho de Viamão, região metropolitana de Porto Alegre, uma carta supostamente ditada por um morto ajudou na absolvição da ré Iara Barcelos, de 63 anos, acusada de ser mandante de um crime. O júri ficou sensibilizado pela mensagem, que seria da vítima, o tabelião Ercy da Silva Cardoso. Na carta, Ercy afirmava a inocência de Iara.
A cultura espírita já chegou aos Estados Unidos. Filmes arrasa-quarteirão como Ghost, de 1990, já mostravam o apelo de temas como a comunicação entre vivos e mortos. Agora, começa a fazer sucesso na televisão americana a série Medium. Nela, uma mulher psicografa mensagens que ajudam a desvendar crimes. A protagonista da série é baseada numa personagem real, a americana Allison Dubois, cujo livro Não É Preciso Dizer Adeus acaba de ser lançado no Brasil. Citado na reportagem do The New York Times, o espírita Divaldo Pereira Franco, de 79 anos, afirma acreditar no crescimento da doutrina nos Estados Unidos, onde começou a fazer palestras em 1962. "Em minha última palestra, em Baltimore, 70% da platéia era de americanos", diz Franco. Em Nova York foram criados dez centros espíritas na última década. Em New Jersey, mais seis.
O que explica a adesão crescente da classe média ao espiritismo? Quem responde é o sociólogo Flávio Pierucci, da Universidade de São Paulo, autor de A Realidade Social das Religiões no Brasil: "O espiritismo é uma religião confortável. Ela suaviza o drama da morte e dá respostas lógicas ao que acontece de bom ou ruim. Sem falar que podemos levar créditos ou débitos para outras vidas". Pierucci considera que há três razões pelas quais o "novo espiritismo" atrai tantos adeptos entre a classe média:
1) A doutrina espírita se baseia num conjunto de idéias muito bem sistematizado e, portanto, passível de aceitação racional.
2) Ela é flexível e acolhe gente de todas as religiões.
3) A forma original da religião fundada por Kardec de lidar com a questão da morte.
Para entender cada um desses motivos, é preciso fazer um breve histórico da religião espírita. As idéias que alicerçam o espiritismo foram sistematizadas pelo francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, nascido em Lyon em 1804. Ele passaria para a História sob o pseudônimo de Allan Kardec - que seria o nome de um druida, supostamente sua encarnação anterior. Nascido em uma família de magistrados católicos, ele decidiu seguir também o caminho da educação e sempre lutou pela democratização do ensino público na França. Em 1854, Kardec se interessou pelo fenômeno então conhecido como "mesa giratória". Nos salões elegantes, após os saraus, gente da alta sociedade costumava se sentar em torno dessas mesas para, segundo acreditavam, dialogar com os espíritos. Utilizando recursos supostamente mediúnicos dos presentes, as entidades desencarnadas se manifestariam. Segundo os historiadores, o fenômeno foi a coqueluche da sociedade francesa de 1853 a 1855. Os eventos das mesas giratórias ganharam dezenas de reportagens dos jornais europeus.
Kardec mergulhou nesse universo por três anos, até estruturar uma doutrina que, segundo ele, unia os conhecimentos científico, filosófico e religioso. Ele escreveu sua obra básica, O Livro dos Espíritos, em 1857. O livro é resultado dos diálogos que Kardec afirmava ter estabelecido com espíritos desencarnados nas diversas reuniões mediúnicas de que participou. Kardec não dizia ser médium. Afirmava valer-se de um método científico para conferir a veracidade dos diálogos. Dizia ouvir a voz de diferentes espíritos por meio de diferentes médiuns, para cotejar as versões. A obra se estrutura em 1.019 tópicos, no estilo pergunta e resposta. O Livro dos Espíritos serviu de base para mais quatro obras de Kardec: O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese. Como há outras religiões espiritualistas - que crêem na vida além da matéria -, criou-se a expressão "kardecismo" para diferenciar a doutrina de Kardec das outras. O termo, porém, é considerado errôneo pela Federação Espírita Brasileira (FEB). Chamar o espiritismo de kardecismo é considerado redundância. Kardec morreu em 1869, aos 64 anos, e seus livros estão para o espiritismo como o Novo Testamento para os cristãos, a Torá para os judeus e o Alcorão para os muçulmanos.
Quando Kardec codificou sua doutrina, deu-lhe um revestimento científico. É essa roupagem racional o primeiro motivo para o sucesso do espiritismo no mundo moderno. "Razão e fé não estão em pólos opostos. Cremos em algo lógico, não místico", diz o presidente da Federação Espírita Brasileira, Nelson Masotti. "Seria difícil seguir uma religião que não estimula a discussão e o conhecimento", diz o engenheiro carioca Ricardo Danziger, de 47 anos, filho de mãe católica e pai judeu. Toda a sua família - a mulher, Ana Cristina, e os filhos adolescentes, Ricardo e Júlia - professa a religião espírita e freqüenta o mesmo centro, o Lar Teresa, no bairro carioca de Copacabana.
Ao contrário do que se possa imaginar, quem entra num centro espírita não vai encontrar médiuns se contorcendo ou sessões de exorcismo coletivo. Centros espíritas são, mais que tudo, espaços de leitura, discussão e prece. Nas reuniões dos espíritas, normalmente há primeiro uma leitura de um dos livros de Kardec. Depois uma palestra, em que um participante do centro apresenta suas interpretações sobre algum ponto da doutrina. Por fim, há o passe, momento em que o médium (não necessariamente incorporado) diz trocar energia com os presentes. Ao fundo, oração coletiva e, em muitos casos, luz mais fraca.
A segunda razão para o crescimento do espiritismo é a flexibilidade da doutrina. Avessos a fundamentalismos, hierarquias, sacerdotes, altares e ídolos, os espíritas acolhem pessoas de todas as religiões. Não há exigências na atitude, no vestuário ou cobrança financeira. Adeptos de outras religiões costumam se envolver com o espiritismo sem necessariamente abandonar as crenças originais. "Somos avessos ao fundamentalismo. Daí ser tão importante o estudo e a leitura", afirma o carioca Raul Teixeira, considerado pela Federação Espírita Brasileira um dos maiores médiuns do país. "Quem se digladia com outras religiões mostra falta de maturidade na fé. Quando você não crê o suficiente, quer convencer os outros para convencer a si mesmo." Uma pesquisa realizada pela Federação Espírita Brasileira em São Paulo e no Rio Grande do Sul mostra que apenas um em cada quatro freqüentadores de centros se considera oficialmente espírita. "Não temos dogmas, santos, hierarquia. Há respeito por todas as crenças", diz o economista carioca André Menezes Cortes, de 36 anos. Nascido em uma família católica, hoje ele é adepto da doutrina de Kardec.

A terceira e principal razão para que o espiritismo tenha tantos adeptos é a maneira como a religião fundada por Kardec lida com a questão da morte. Para os espíritas, ela não é o fim de tudo. É possível ter outras vidas e nelas resolver assuntos pendentes de encarnações passadas. É algo semelhante ao que os budistas costumam chamar de carma, uma espécie de "preço" pago nas diversas vidas rumo à evolução espiritual. Para os cristãos, a vida é uma chance única: resolva tudo agora e salvará sua alma - ou arderá no inferno. O budismo e o hinduísmo admitem a reencarnação (gráfico na sequencia da matéria). Só o espiritismo, no entanto, diz possibilitar a comunicação entre "encarnados" e "desencarnados". Segundo os espíritas, é possível trocar mensagens orais ou escritas por meio dos médiuns - pessoas que funcionam como antenas entre os dois mundos.
Chico Xavier foi o maior deles. Escreveu mais de 400 livros. Mulato pobre, nascido em Pedro Leopoldo, no interior de Minas Gerais, Chico foi perseguido e investigado desde os anos 30, quando sua fama se alastrou pelo país. Nessa época, ele dizia psicografar textos de escritores e poetas mortos, que guardavam, para espanto geral, incrível semelhança com o estilo original. Nas décadas que se seguiram, Chico se tornou referência no mundo do espiritismo. Isso resultou em verdadeiras romarias a sua casa, em Uberaba, em Minas, para onde se mudou em 1959 e onde morou até morrer, aos 92 anos, em 2002.
As obras de Chico Xavier trouxeram imenso consolo ao taxista carioca Gilberto da Silva Netto, de 65 anos. Há algumas semanas, as noites de Gilberto têm sido dedicadas à leitura de Jovens no Além, escrito por Chico em 1975. O livro traz mensagens supostamente psicografadas de pessoas que perderam a vida cedo, em circunstâncias trágicas. Gilberto é pai de Rodrigo, o Nettinho, guitarrista da banda Detonautas, assassinado num assalto no início de junho no Rio. Católico de formação, Gilberto se define como cético sobre qualquer religião. Mas diz ter se aproximado do espiritismo em busca de respostas. "Quero acreditar que meu filho está bem, em algum lugar", diz o taxista. Ele também perdeu a mãe de seus filhos, de câncer, há mais de 20 anos. Sua atual mulher, a professora Eliane Perez, que criou Rodrigo desde os 9 anos, é espírita desde jovem e procura acalmar a família depois da tragédia. "Tenho explicado a todos que nada é por caso. E que algum dia vamos todos nos reencontrar, de alguma maneira", afirma Eliane.
A presença do espiritismo na cultura brasileira vem de longe. Pode-se dizer que dois conjuntos de idéias originalmente francesas - o espiritismo e o positivismo, de onde herdamos o lema "Ordem e Progresso" - encontraram solo fértil no Brasil francófilo da virada do século XIX para o XX. Nessa época, o jornalista João do Rio - um adepto do estilo de jornalismo literário que nos anos 60 viria a ser chamado de "new journalism" pela geração de Tom Wolfe e Gay Talese - registrou o frisson em torno do espiritismo em seu livro As Religiões do Rio. "Nas rodas mais elegantes, entre sportsmen inteligentes, lavra o desespero das comunicações espíritas, como em Paris o automobilismo", escreveu João do Rio em um livro de 1904 que acaba de ser relançado no Brasil (leia o quadro na sequência da matéria).
A doutrina de Kardec chegou ao Brasil logo depois de ter sido divulgada no Livro dos Espíritos, por meio de um grupo de franceses que moravam no Rio, então capital do Império. Foi rapidamente absorvida por uma elite. Com o tempo, começaram as primeiras repercussões de supostos eventos mediúnicos e tratamentos espirituais. A partir de 1890, um movimento liderado por médicos, apoiados por juristas, resultou em perseguição ao espiritismo. "De certa forma, naquele momento, a doutrina concorria com a medicina", diz a antropóloga Sandra Stohl, autora do livro Espiritismo à Brasileira, baseado em sua tese na Universidade de São Paulo.
Foi o médico Adolfo Bezerra de Menezes, na primeira metade do século XX, quem deslocou o foco da doutrina da ciência para a caridade. Essa ênfase se tornou uma característica marcante do espiritismo brasileiro. Estima-se que meio milhão de pessoas no país recebam ajuda de alguma entidade espírita. A própria Federação Espírita Brasileira iniciou um trabalho social em 1884, ano de sua fundação. Hoje ela dá assistência a aproximadamente mil famílias, além de manter uma creche para 800 crianças na cidade de Santo Antônio do Descoberto, em Goiás.
As Casas André Luiz, de São Paulo, atendem pacientes com problemas de saúde mental - 630 em regime de alojamento e 800 em regime ambulatorial. A assistência se estende à família do doente, já que quase todos os pacientes são muito pobres. Divaldo Franco, aquele que também atua nos Estados Unidos, mantém em Salvador a Mansão do Caminho. Desde 1947, a entidade já prestou atendimento médico e odontológico a mais de 30 mil pessoas. Vivemos num mundo cada vez mais competitivo, em que muitas vezes a caridade é deixada em segundo plano. A época atual é também de recrudescimento de fundamentalismos que sufocam a liberdade religiosa. Num tempo assim, a acolhida cada vez maior da mensagem espírita, fundamentada na tolerância e solidariedade, é um fato a comemorar.