E os espíritas o que fazem?…

(Desabafo emocionante de D. Virgínia, esposa de Herculano Pires)

Pode-se achar estranha essa pergunta; mas, devemos separar o joio do trigo: uma coisa é você ter informação, outra é possuir conhecimento de Doutrina.

Só a título de exemplo, a grande maioria não sabe que Kardec mudou de ideia em relação à possessão física. Isso se deu na Revista Espírita 1863, quando cita o caso da Senhorita Julie. Essa nova posição é levada para o livro A Gênese, e como este é pouco lido, as pessoas ficam com o que está em o LE e LM.

Outro bom exemplo é a polêmica, bem ao gosto de neófitos, em torno da suposição que Chico teria sido Kardec reencarnado. De nossa parte temos vários artigos visando ajudar no esclarecimento e no incentivo à busca criteriosa da verdade. Podemos estar “pregando no deserto”, para o misticismo, a idolatria e/ou fanatismo que nem longe se define como prática espírita, caracterizada pelo bom censo e pela lógica apregoada pelo pedagogo de Lion, nosso ilustre Codificador Allan Kardec.

Herculano Pires (1914-1979), “o melhor metro que mediu Kardec”, na opinião de Emmanuel, combateu veementemente essa ideia, tivemos a grata surpresa de também ver o que pensava sobre isso a sua esposa D. Virgínia.

Em entrevista realizada no Centro Espírita Cairbar Schutel, de São Paulo, SP, em 27 de fevereiro de 1999, Maria Virgínia Ferraz Pires (1919-2000), ou simplesmente, D. Virgínia, interrompe o sr. Antônio Carlos Molina, dizendo-lhe:

Agora, dá licença só um minuto. Eu faço questão do sr. gravar isso, pode ser que eu morra amanhã e não disse mais uma vez. Então vou aproveitar que o Sr. está aí com tão boa vontade, dizer que eu não só acho que faltava isso, como falta na Doutrina Espírita, espíritas que estudem a doutrina, que trabalhem pela doutrina kardecista, que não façam essa confusão que andam fazendo. Que quando eu pego um jornal espírita, os jornais espíritas na maioria das ocasiões, eu acho uma tristeza imensa.

E digo, plenamente, o Herculano mais faz falta ao Espiritismo do que fez para nós [os familiares]. Porque a gente vai levando a vida como Deus ajuda e vamos nos esforçando para a vida continuar mais ou menos em ordem. E os espíritas o que fazem?…

A maioria confunde o Espiritismo. A maioria escreve coisas absurdas, gente que tinha por obrigação de entender o Espiritismo. Eu não sei se vocês viram há pouco tempo a dra. Marlene Nobre, que é uma médica, que tem influência em nome do Espiritismo, que publicou um artigo enorme no jornal dela dizendo que o Chico é a reencarnação de Kardec. Olha… e outras besteiras assim, de vez em quando a gente lê.

Chico, coitado, que sinal que ele dá de ser a reencarnação de Kardec? Um espírito boníssimo, um espírito melhor do que ele, eu me considero péssima perto dele, o espírito que só vê as boas qualidades dos outros, e eu já vejo as más, já fico prestando atenção nas más qualidades dos outros, quer dizer que eu não posso me comparar a Chico Xavier. Mas de matéria de Espiritismo ele não conhece quase, ele não é… não tem aquele… – como se diz que Kardec era o quê reencarnado?… (o bom senso, ajuda sr. Molina) – o bom senso.

O Chico não, o Chico desculpa todo mundo, ele tão bom que as maiores besteiras do mundo ele não tem coragem de dizer. Ele não faz aquilo que acho ótimo fazer, que eu faço, que estou fazendo melhor do que ele que não faz, mas “seja seu falar sim, sim; não, não”, quando vejo alguma coisa errada, tá errada, não quero saber de nada. O Chico não vê o defeito de ninguém, ele é tão bom que acha que todo mundo tá certo. Quer dizer que ele nem se pode imaginar ele como a reencarnação de Kardec. Não é desmerecendo o Chico, é que é um espírito completamente diferente.

E, no meio espírita, o sr. vê infinidade de besteiras como essa. Coisas que provam que turma, que a maioria, não todos, não estão estudando Kardec como deve. E nesse ponto eu acho que Herculano faz uma falta incrível, porque ele quando via uma coisa errada não adiantava eu pedir pelo amor de Deus para ele não dizer aquilo, que eu ia ficar de cabeça quente, porque a turma ia começar a torrar, que ele nem dava satisfação, ele queria defender o Espiritismo. Então, a gente vê a falta que ele faz nesse ponto. (Vídeo: Fatos sobre a vida de Herculano Pires, narrado por familiares e amigos, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=Qez-WSANjdw, trecho de 1h31'52' a 1h35'01'').

Eis aí algo que pode “doer” em muitos de nós; porém, é a triste realidade, pois só temos informação e nada de conhecimento doutrinário, como exposto por D. Virgínia. Uma boa reflexão para todos nós!

Paulo da Silva Neto Sobrinho

Fev/2016.