domingo, 5 de julho de 2015

Ressurreição e reencarnação (IV)

Mas, quando o homem há morrido uma vez, quando seu corpo, separado de seu espírito, foi consumido, que é feito dele? 
— Tendo morrido uma vez, poderia o homem reviver de novo? 
Nesta guerra em que me acho todos os dias da minha vida, espero que chegue a minha mutação. (JOB, cap. XIV, v. 10,14. 
Tradução de Le Maistre de Sacy.)

Quando o homem morre, perde toda a sua força, expira. 
Depois, onde está ele? 
– Se o homem morre, viverá de novo? 
Esperarei todos os dias de meu combate, até que venha alguma mutação? (ID. Tradução protestante de Osterwald.) 

Quando o homem está morto, vive sempre; acabando os dias da minha existência terrestre, esperarei, porquanto a ela voltarei de novo. (ID. Versão da Igreja grega.)

Nessas três versões, o princípio da pluralidade das existências se acha claramente expresso. 
Ninguém poderá supor que Job haja querido falar da regeneração pela água do batismo, que ele de certo não conhecia. 
“Tendo o homem morrido uma vez, poderia reviver de novo?” 
A ideia de morrer uma vez, e de reviver implica a de morrer e reviver muitas vezes. 

A versão da Igreja grega ainda é mais explícita, se é que isso é possível: “Acabando os dias da minha existência terrena, esperarei, porquanto a ela voltarei”, ou, voltarei à existência terrestre. 
Isso é tão claro, como se alguém dissesse: “Saio de minha casa, mas a ela tornarei.”
“Nesta guerra em que me encontro todos os dias de minha vida, espero que se dê a minha mutação.” 
Job, evidentemente, pretendeu referir-se à luta que sustentava contra as misérias da vida. 
Espera a sua mutação, isto é, resigna-se. 

Na versão grega, esperarei parece aplicar-se, preferentemente, a uma nova existência: 
“Quando a minha existência estiver acabada, esperarei, porquanto a ela voltarei.” 
Job como que se coloca, após a morte, no intervalo que separa uma existência de outra e diz que lá aguardará o momento de voltar.

Não há, pois, duvidar de que, sob o nome de ressurreição, o princípio da reencarnação era ponto de uma das crenças fundamentais dos judeus, ponto que Jesus e os profetas confirmaram de modo formal; donde se segue que negar a reencarnação é negar as palavras do Cristo. 

Um dia, porém, suas palavras, quando forem meditadas sem idéias preconcebidas, reconhecer-se-ão autorizadas quanto a esse ponto, bem como em relação a muitos outros.

A essa autoridade, do ponto de vista religioso, se adita, do ponto de vista filosófico, a das provas que resultam da observação dos fatos. 
Quando se trata de remontar dos efeitos às causas, a reencarnação surge como de necessidade absoluta, como condição inerente à Humanidade; numa palavra: como lei da Natureza. 

Pelos seus resultados, ela se evidencia, de modo, por assim dizer, material, da mesma forma que o motor oculto se revela pelo movimento. 

Só ela pode dizer ao homem donde ele vem, para onde vai, por que está na Terra, e justificar todas as anomalias e todas as aparentes injustiças que a vida apresenta. 

Sem o princípio da preexistência da alma e da pluralidade das existências, são ininteligíveis, em sua maioria, as máximas do Evangelho, razão por que hão dado lugar a tão contraditórias interpretações. 

Está nesse princípio a chave que lhes restituirá o sentido verdadeiro.

               


(Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. IV, itens 14 a 17.)

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