domingo, 5 de julho de 2015

Preces pagas

Disse em seguida a seus discípulos, diante de todo o povo que o escutava:

 — Precatai-vos dos escribas que se exibem a passear com longas túnicas, que gostam de ser saudados nas praças públicas e de ocupar os primeiros assentos nas sinagogas e os primeiros lugares nos festins — que, a pretexto de extensas preces, devoram as casas das viúvas. 

Essas pessoas receberão condenação mais rigorosa. (S. LUCAS, cap. XX, vv. 45 a 47; S. MARCOS, cap. XII, vv. 38 a 40; S. MATEUS, cap. XXIII, v. 14.)

Disse também Jesus: não façais que vos paguem as vossas preces; não façais como os escribas que, “a pretexto de longas preces, devoram as casas das viuvas”, isto é, abocanham as fortunas. 

A prece é ato de caridade, é um arroubo do coração. 

Cobrar alguém que se dirija a Deus por outrem é transformar-se em intermediário assalariado. 

A prece, então, fica sendo uma fórmula, cujo comprimento se proporciona à soma que custe. 

Ora, uma de duas: 
Deus ou mede ou não mede as suas graças pelo número das palavras. 
Se estas forem necessárias em grande número, por que dizê-las poucas, ou quase nenhumas, por aquele que não pode pagar? 
É falta de caridade. 
Se uma só basta, é inútil dizê-las em excesso. 
Por que então cobrá-las? 
É prevaricação.
Deus não vende os benefícios que concede. 

Como, pois, um que não é, sequer, o distribuidor deles, que não pode garantir a sua obtenção, cobraria um pedido que talvez nenhum resultado produza? 

Não é possível que Deus subordine um ato de demência, de bondade ou de justiça, que da sua misericórdia se solicite, a uma soma em dinheiro. 

Do contrário, se a soma não fosse paga, ou fosse insuficiente, a justiça, a bondade e a demência de Deus ficariam em suspenso. 

A razão, o bom senso e a lógica dizem ser impossível que Deus, a perfeição absoluta, delegue a criaturas imperfeitas o direito de estabelecer preço para a sua justiça. 

A justiça de Deus é como o Sol: existe para todos, para o pobre como para o rico. Pois que se considera imoral traficar com as graças de um soberano da Terra, poder-se-á ter por lícito o comércio com as do soberano do Universo?

Ainda outro inconveniente apresentam as preces pagas: é que aquele que as compra se julga, as mais das vezes, dispensado de orar ele próprio, porquanto se considera quite, desde que deu o seu dinheiro. 

Sabe-se que os Espíritos se sentem tocados pelo fervor de quem por eles se interessa. 

Qual pode ser o fervor daquele que comete a terceiro o encargo de por ele orar, mediante paga? 

Qual o fervor desse terceiro, quando delega o seu mandato a outro, este a outro e assim por diante? 

Não será isso reduzir a eficácia da prece ao valor de uma moeda em curso?


                             


(Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XXVI, itens 3 e 4.)

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