terça-feira, 30 de junho de 2015

Ressurreição e reencarnação (II)

Estas palavras: 
Se um homem não renasce do água e do Espírito foram interpretadas no sentido da regeneração pela água do batismo. 

O texto primitivo, porém, rezava simplesmente: não renasce da água e do Espírito, ao passo que nalgumas traduções as palavras — do Espírito — foram substituídas pelas seguintes: 
do Santo Espírito, o que já não corresponde ao mesmo pensamento. 

Esse ponto capital ressalta dos primeiros comentários a que os Evangelhos deram lugar, como se comprovará um dia, sem equívoco possível.

Para se apanhar o verdadeiro sentido dessas palavras, cumpre também se atente na significação do termo água que ali não fora empregado na acepção que lhe é própria.

Muito imperfeitos eram os conhecimentos dos antigos sobre as ciências físicas. 

Eles acreditavam que a Terra saíra das águas e, por isso, consideravam a água como elemento gerador absoluto. 

Assim é que na Gênese se lê: 
“O Espírito de Deus era levado sobre as águas; flutuava sobre as águas; 
— Que o firmamento seja feito no meio das águas; 
— Que as águas que estão debaixo do céu se reúnam em um só lugar e que apareça o elemento árido; 
— Que as águas produzam animais vivos que nadem na água e pássaros que voem sobre a terra e sob o firmamento.”

Segundo essa crença, a água se tornara o símbolo da natureza material, como o Espírito era o da natureza inteligente. 
Estas palavras: 
“Se o homem não renasce da água e do Espírito, ou em água e em Espírito”, significam pois: 
“Se o homem não renasce com seu corpo e sua alma.” 

É nesse sentido que a princípio as compreenderam.
Tal interpretação se justifica, aliás, por estas outras palavras: 
O que é nascido da carne é carne e o que é nascido do Espírito é Espírito. 
Jesus estabelece aí uma distinção positiva entre o Espírito e o corpo. 
O que é nascido da carne é carne indica claramente que só o corpo procede do corpo e que o Espírito independe deste.

O Espírito sopra onde quer; ouves-lhe a voz, mas não sabes nem donde ele vem, nem para onde vai: pode-se entender que se trata do Espírito de Deus, que dá vida a quem ele quer, ou da alma do homem. 

Nesta última acepção 
— “não sabes donde ele vem, nem para onde vai” 
— significa que ninguém sabe o que foi, nem o que será o Espírito. 

Se o Espírito, ou alma, fosse criado ao mesmo tempo que o corpo, saber-se-ia donde ele veio, pois que se lhe conheceria o começo. 

Como quer que seja, essa passagem consagra o princípio da preexistência da alma e, por conseguinte, o da pluralidade das existências.

(Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. IV, itens 7 a 9.)

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