sábado, 6 de fevereiro de 2016

O CARNAVAL, ESSE NOSSO VELHO CONHECIDO

A origem da palavra carnaval, segundo os historiadores modernos é um tanto incerta. Algumas fontes citam sua origem do termocarnevalemenque significa “o prazer da carne”. Outros de carrus navalis, carro com enorme tonel, que distribuía vinho ao povo, em honra ao deus Dionísio (também chamado Baco), na antiga Roma. Ou do latim carne vale, isto é, "adeus carne", correspondendo aos dias de folguedo anteriores à quarta-feira de Cinzas. É um período de certa permissividade associado ao uso de máscaras transformadoras.
Essa festa tem como marco inicial a criação dos cultos agrários, voltados aos Deuses da Fertilidade (Egito, Pérsia, Fenícia, Creta, Babilônia, etc). Saudavam com danças e cânticos a fim de espantar as forças negativas que prejudicavam o plantio.
O carnaval pagão começa quando Pisistráto oficializa o culto a Dionísio (ou Baco), na Grécia, no século VII a.C. Pisistráto além de incentivar o culto a Dionísio entre os camponeses e lavradores, organizou oficialmente as procissões dionisíadas onde a imagem do deus Dionísio era transportada em embarcações com rodas (carrum navalis) simbolizando que o deus havia chegado a Atenas pelo mar, puxadas por sátiros (semideuses que segundo os pagãos tinham pés e pernas de bode e habitavam as florestas) com homens e mulheres nus, em seu interior. Seguindo o cortejo, uma multidão de mascarados, em meio a um touro, que depois era sacrificado, percorria as ruas de Atenas em frenéticas passeatas de júbilo e alegria. A procissão terminava no templo sagrado, o Lenaion, onde se consumava a hierogamia (o casamento do deus com a Polis inteira em procura da fecundação).
O carnaval pagão termina quando a Igreja adota, oficialmente, o carnaval, no ano de 590 d.C. Ao surgir, o cristianismo já encontrou as festas, ditas orgiásticas, no uso dos povos. Por seus caracteres libertinos e pecaminosos foram a princípio condenados pela Igreja Católica. A Igreja e o Estado Feudal impuseram às cerimônias oficiais um tom sério e sisudo, como uma forma de combater o riso, ritual dos festejos, que em geral descambavam para as permissividades. Entretanto, o povo parecia não observar este tipo de conduta. Indiferente ao oficialismo imposto, respondia com atos e ritos cômicos.
O carnaval cristão chega ao fim no século XVIII, quando um novo modelo, pós-moderno, começa a se delinear a partir das cidades de Nice, Roma e Veneza e que passaram a irradiar para o mundo inteiro o carnaval que ainda hoje identifica a festa, com mascarados fantasiados e desfiles de carros alegóricos e que muitos autores consideram o verdadeiro carnaval.
Após esse pequeno passeio histórico perguntamos ao leitor: será que o sentido do carnaval mudou realmente nesses milênios todos? Afinal, há alguma diferença no que vemos por aí? Se do lado dos encarnados é tudo isso que já conhecemos, o que será do lado espiritual?
Responde-nos Manoel Philomeno de Miranda em seu livro, muito bem intitulado Nas Fronteiras da Loucura, onde estão expostos os acontecimentos desses dias de folia e do qual reproduzimos o início do primeiro capítulo - Resposta à oração, repleto de revelações importantes para nossa reflexão.
“(...) As bátegas sucediam-se em abençoado, desconhecido socorro, espancando e espalhando as densas nuvens psíquicas de baixo teor vibratório que encobriam a cidade imensa e generosa.
Nos intervalos, o ruído atordoante dos instrumentos de percussão incitava ao culto bárbaro do prazer alucinante, misturando-se aos trovões galopantes enquanto os corpos pintados, semi-despidos, estorcegavam em desespero e frenesi, acompanhando o cortejo das grandes escolas de samba, no brilho ilusório dos refletores, que se apagariam pelo amanhecer.
Como acontecera nos anos anteriores, aquela segunda-feira de carnaval convidava ao desaguar de todas as loucuras no delta das paixões da avenida em festa.
Milhares de pessoas imprevidentes, estimuladas pela música frenética, pretendendo extravasar as ansiedades represadas, cediam ao império dos desejos, nas torrentes da lubricidade que as enlouquecia.
A delinqüência abraçava o vício, urdindo as agressões, em cujas malhas se enredavam as vítimas espontâneas, que se deixavam espoliar.
As mentes, em torpe comércio de interesses subalternos, haviam produzido uma psicosfera pestilenta, na qual se nutriam vibriões psíquicos, formas-pensamento de mistura com entidades perversas, viciadas e dependentes, em espetáculo pandemônico, deprimente.
As duas populações — a física e a espiritual, em perfeita sintonia — misturavam-se, sustentando-se, disputando mais largas concessões em simbiose psíquica.
Não obstante, como sempre ocorre em situações desta natureza, equipes operosas de trabalhadores espirituais em serviços de emergência, revezavam-se, infatigáveis, procurando diminuir o índice de desvarios, de suicídios a breve e a largo prazo pelas conexões que então se estabeleciam, para defender os incautos, menos maliciosos, enfim, socorrer a grande mole em desequilíbrio ou pronta para sofrer-lhe o impacto.
Desde as vésperas haviam sido instalados diversos postos de socorro, no nosso plano de ação, para serem recolhidos desencarnados que se acumpliciavam na patuscada irresponsável ou aqueles que vieram para auxiliar os seus afetos desatentos ao bem e a vigilância, ao mesmo tempo minimizando a soma e infortúnios que poderiam advir.
O abnegado Bezerra de Menezes, à frente de expressiva equipe de médicos e enfermeiros, de técnicos em socorros especiais, tomava providências, distribuía informações e cuidava, pessoalmente, dos casos mais graves, nos quais aplicava os recursos da sua sabedoria.
As horas avançavam num recrudescer de atividades, fazendo recordar um campo de guerra, em que os litigantes mais se compraziam em ferir, malsinar, destruir. Frente de batalha, sem dúvida, em que se convertia a cidade, naqueles dias, cujo ônus lhe pesava, cada ano, em forma de maior incidência na agressividade, na violência, nos desajustes socioeconômicos lamentáveis.
Outrossim, o nosso centro de comunicações registrava apelos e notícias de várias ordens, donde emanavam as diretrizes para o atendimento dos casos passíveis de ajuda imediata. Os outros ficavam selecionados para ulteriores providências, quando diminuíssem os fatores desagregantes do equilíbrio geral.
Pessoas sinceramente afervoradas ao bem enviavam pedidos de ajuda, intercediam por familiares a um passo de tombarem nos aliciamentos extravagantes e fatais.
Os seletores de preces facultavam ligações com os Núcleos Superiores da Vida, ao mesmo tempo intercambiando forças de auxílio aos orantes contritos, enquanto aparelhagens específicas acolhiam pensamentos e forças psíquicas que se transformavam em agentes energéticos que irradiavam correntes diluentes das condensações deletérias. (...)”
Como bem podemos perceber pelo que nos é descrito neste início do primeiro capítulo, já adivinhamos as situações deprimentes e dolorosas por que passam todos aqueles nossos irmãos sintonizados com esta festa mundana, que nada fica a dever aos antigos espetáculos de Roma e da antigüidade pagã. Milhares de anos são passados e a criatura humana ainda não conseguiu se desvencilhar da sombra da animalidade e da ignorância. No capítulo 6 Manoel Philomeno nos adverte que “há estudiosos do comportamento e da psique, sinceramente convencidos da necessidade de descarregarem-se as tensões e recalques nesses dias em que “a carne nada vale”, cuja primeira sílaba de cada palavra compôs o verbete carnaval.”Estudiosos, estes, que com seu conhecimento poderiam apontar rumos melhores para a evolução humana, ainda concordam entre si que é lícito um dia de loucura ao ano, como a justificar a sua ainda inferioridade espiritual. Até quando escorregaremos no lamaçal da inferioridade em detrimento da nossa elevação espiritual? Muitos alegarão que todos nós temos necessidade de descontração e lazer de tempos e tempos. E têm toda razão, mas que essa descontração e esse lazer sejam compatíveis com nossas aspirações de conquista moral. Paulo de Tarso, sabiamente nos chama a atenção, para que examinemos tudo, mas que só retenhamos o que seja bom. Aproveitemos esse feriado sim, mas para o repouso mental, a leitura dignificante, o estreitamento de nossos laços de família e de amizade e vibremos intensamente por aqueles que, emaranhados no turbilhão da fuga de si mesmos, ainda não despertaram para as verdades espirituais.
E finalizando, perguntamos ainda mais uma vez ao leitor: ainda tem vontade de participar dessa folia?
Rogério de Oliveira
“Se o lapidário aprimora a pedra, usando a lima resistente, o Senhor do universo aperfeiçoa o caráter dos filhos transviados de Sua casa, usando corações endurecidos, temporariamente, afastados de Sua obra.”


Instrutor Gúbio, do livro Libertação, psicografado por Francisco C. Xavier. Autor espiritual: André Luiz

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