domingo, 11 de outubro de 2015

AS TRÊS RESPOSTAS



Certa vez um imperador querendo satisfação no seu reinado, buscou a resposta para as seguintes perguntas:

Qual o tempo mais oportuno para se fazer cada coisa?

Quais as pessoas mais importantes com quem trabalhar?

Qual a coisa mais importante a ser feita?

O imperador publicou uma declaração, dizendo dar um alto prêmio àquele que fosse capaz de responder as perguntas. 
Inúmeras pessoas se dirigiam ao palácio oferecendo diferentes respostas.

Em resposta à primeira pergunta, alguém aconselhou o imperador a fazer um planejamento completo, dedicando todas as horas, dias, meses e ano a certas tarefas constantes da programação elaborada e observá-lo ao pé da letra. 
Só assim teria possibilidade de fazer cada coisa no tempo certo.

Uma segunda pessoa respondeu que seria planejar com antecedência, que deveria deixar todo e qualquer divertimento vão de lado e permanecer atento a tudo, a fim de saber o que fazer na hora certa.

Uma terceira pessoa disse que o imperador jamais poderia, por si próprio, ter a previsão e competência necessárias para decidir quando fazer cada coisa, e que o que ele realmente precisava era constituir um conselho de sábios e agir de acordo com que fosse determinado por estes.

Uma quarta, enfim, disse que certos assuntos requeriam providências imediatas, não podendo assim esperar por decisão de conselho, mas se o imperador quisesse saber dos acontecimentos com antecedência deveria consultar mágicos e adivinhos.

As respostas à segunda pergunta também não foram satisfatórias. Uma pessoa disse que o imperador devia depositar toda sua confiança nos administradores, outra, nos padres e monges, outra nos médicos, e, outras ainda, nos guerreiros.

A terceira pergunta trouxe uma variedade similar de respostas. 
Alguns disseram que a coisa mais importante a fazer era a ciência. Outros falaram em religião. 
Outros ainda achavam que a coisa era a arte, outros o potencial bélico.

Como nenhuma das respostas satisfez ao imperador, nenhum prêmio foi concedido.

Após refletir por várias noites, o imperador decidiu sair à procura de um eremita que vivia na montanha, e que diziam ser um homem iluminado. 
Sabia-se que ele jamais deixara a montanha e não recebia ricos nem poderosos, apenas os pobres. 
Ainda assim, o imperador decidiu ir ao seu encontro para fazer-lhe as três perguntas. disfarçado de camponês. 
O imperador ordenou aos seus criados que o esperassem ao pé da montanha enquanto ele subiria sozinho.

Ao chegar ao lugar em que vivia o eremita, o imperador viu-o lavrando a terra da horta em frente a sua pequena cabana. 
Ao avistar o forasteiro, o eremita acenou-lhe com a cabeça, continuando a capinar. 
O trabalho era bastante duro para um homem daquela idade, toda vez que enterrava a enxada na terra, para revolvê-la, um profundo suspiro acompanhava seu movimento.

Acercando-se dele o imperador falou: 
"Vim até aqui para pedir sua ajuda. 
Quero que responda três perguntas:

Qual o tempo mais oportuno para se fazer cada coisa?

Qual as pessoas mais importantes com quem trabalhar?

Qual a coisa mais importante a ser feita?"

O eremita ouviu-o atentamente mas não respondeu. 
Deu uma palmadinha amistosa no ombro do forasteiro e continuou seu trabalho. O imperador então disse: 
" Você deve estar cansado, deixe-me dar uma mão no seu trabalho". Agradecendo, o eremita passou-lhe a enxada e sentou-se no chão para descansar.

Depois de ter cavado dois canteiros, o imperador parou e, voltando-se para o eremita, repetiu suas três perguntas. 
Ao invés de responder, o eremita levantou-se e apontando para a enxada disse: 
"Por que não descansa agora? 
Eu posso retomar o meu trabalho de novo".

Mas o imperador não lhe passou a enxada e continuou a cavar. 
Assim se passaram as horas, até que o sol começou a se esconder atrás da montanha. 
O imperador colocou a enxada de lado e falou ao eremita: 
''Eu vim até aqui para ver se você seria capaz de responder minhas perguntas. 
Mas se você não puder respondê-las, por favor, me diga, para assim eu voltar para casa".

Levantando a cabeça, o eremita perguntou: 
"Está ouvindo os passos de alguém correndo ali adiante?"

O imperador voltou a cabeça e, de repente, a frente de ambos, surgiu de dentro do mato um homem com longa barba branca. 
Ofegante, o homem tentava cobrir com as mãos o sangue que escorria do ferimento no estômago, avançando em direção ao imperador, antes de tombar ao chão, inconsciente. 
Abrindo a camisa do homem o imperador e o eremita viram que ele havia recebido um corte profundo.

O imperador limpou a ferida, usando sua própria camisa para atá-la, mas o sangue empapou-a inteira depois de poucos minutos. 
O imperador então enxaguou a camisa, enfaixando a ferida pela segunda vez, assim continuando, até parar de sangrar.

Ao recobrar os sentidos, o homem pediu água. 
O imperador foi até o rio e trouxe-lhe uma cumbuca de água fresca. Nesse meio tempo a noite já havia descido e o frio se fazia sentir. 
O eremita ajudou o imperador a carregar o homem até a cabana onde o deitaram sobre a cama. 
O homem fechou os olhos e adormeceu.

Esgotado por ter passado o dia escalando a montanha e capinado a terra, o imperador encostou-se contra a porta de entrada e adormeceu. 
Quando despertou, o dia já estava claro. 
Por um momento, não se lembrava onde estava e para que tinha ido até ali. 
Esfregou os olhos e viu o homem ferido que, deitado, também olhava confuso ao redor.

Ao ver o imperador, o homem fixou-o, murmurando com voz fraca:

"Perdoe-me, por favor".

"O que fez você para que eu o perdoasse?" respondeu o imperador.

"Vossa Majestade não me conhece, mas eu o conheço. 
Eu era seu inimigo declarado e tinha jurado me vingar por meu irmão ter sido morto na guerra e por minhas propriedades terem sido confiscadas. 
Quando soube que V.M. vinha sozinho até aqui, resolvi surpreendê-lo no seu caminho de volta, e matá-lo.

Como não consegui vê-lo após ter esperado por horas a fio, escondido na mata, decidi sair a sua procura. 
Mas ao invés de encontrar V.M. dei com seus criados que me reconheceram e me feriram. 
Felizmente consegui escapar e correr até aqui. 
Se eu não o tivesse encontrado, estaria certamente morto agora. 
Eu tencionava matá-lo e V.M. salvou a minha vida. 
Não tenho palavras para expressar o quanto estou envergonhado e agradecido. 
Se eu conseguir me recuperar, juro ser seu servo pelo resto de minha vida e o mesmo ordenarei aos meus filhos e netos. 
Por favor, dê-me o seu perdão".

O imperador sentiu uma extraordinária satisfação por ver que havia se reconciliado com um ex-inimigo, tão facilmente. 
Não só lhe perdoou como também prometeu devolver-lhe todas as propriedades e mandar seu próprio médico e criados tratarem-no até que se recuperasse totalmente.

Depois de ordenar aos criados que acompanhassem o homem até o seu lar, o imperador voltou a ver o eremita. 
Queria, antes de retornar ao palácio, repetir as perguntas, uma última vez. 
Encontrou o eremita agachado, semeando a terra que haviam preparado na véspera.

Este, após ouvir novamente as perguntas do imperador, disse calmamente: "Mas suas perguntas já foram respondidas".

"Como assim?" indagou o imperador intrigado.

"Ontem, se V.M. não se tivesse compadecido de mim e me ajudado a cavar a terra, teria sido assassinado por aquele homem ao voltar para casa.

Portanto, o tempo mais oportuno foi o tempo em que esteve cavando os canteiros, a pessoa mais importante fui eu, e a coisa mais importante a fazer foi me ajudar.

Mais tarde, quando o homem ferido apareceu, o tempo mais oportuno foi o tempo em que esteve tratando de seu ferimento, pois sem seu socorro ele teria morrido e V.M. teria perdido a chance de reconciliar-se com ele.

Da mesma forma, ele foi a pessoa mais importante, e a coisa mais importante foi cuidar do seu ferimento.

Lembre-se de que só existe um tempo importante e esse tempo é o agora. O presente é o único tempo sobre o qual temos domínio.
A pessoa mais importante é o próximo, aquele que está a sua frente.

E a coisa mais importante é fazer essa pessoa feliz". 

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