segunda-feira, 19 de outubro de 2015

     Necessário Despertar


Inúmeros candidatos ao conhecimento das informações espíritas - portadoras dos relevantes mecanismos para a reforma íntima - detêm-se, Inconsequentes, na expectativa de milagres, que os não há, para a solução de problemas que eles próprios criaram e continuam gerando, ou esperam que a simples adesão formal a uma sociedade, onde se divulga o Espiritismo, é suficiente para plenificá-los.
Fixados ao atavismo do maravilhoso e do sobrenatural, perseveram na crença leviana de que os Espíritos desencarnados tudo sabem, tudo podem , com a missão expressa de resolver as dificuldades humanas, desse modo, candidatando as criaturas à ignorância e ao atraso.
Acostumados às notícias extravagantes do misticismo que envolve a mediunidade e dos tabus em torno das comunicações espirituais, negam-se ao estudo sério, ou intentam-no, logo o abandonando, apoia-dos às bengalas psicológicas do comodismo de que lhes parece difícil a absorção do conhecimento espiritual, seja pela impossibilidade de manter a atenção, ou por deficiência de memória, ou ainda por perturbações de vária ordem, que afligem, adormecem, incomodam.
A argumentação simplista não procede, porquanto, em outras áreas do comportamento, seja no trabalho, no relacionamento interpessoal, nas pesquisas e cursos, se não houver um sincero interesse e legítima dedicação, ocorrem os mesmos fenômenos perturbardores, desestimulantes.
Toda experiência nova é desafio, caracterizado por dificuldades, superáveis, que mais despertam os valores morais de quem a deseja vivenciar. No que diz respeito àquelas de complexidade profunda, quais as de transformação do homem velho em um novo ser, os patamares a conquistar são múltiplos, revestidos de compreensíveis impedimentos.
Não se alteram hábitos doentios, perniciosos, de um momento para outro, com apenas a disposição, sem o correspondente esforço para consegui-lo.
A transformação interior para melhor, que o conhecimento espírita propicia, é precedida de um necessário despertar para a aceitação de novos e preciosos valores morais, que satisfazem e harmonizam a criatura.
Desse modo, ao desejo de crescimento, devem aliar-se o esforço contínuo e o devotamento às idéias renovadoras, trabalhando-se por entender as diretrizes que se lhe apresentam, experimentando e insistindo na sua implantação no mundo íntimo.
A vitória de qualquer tentame chega após a permanência na sua execução.
*
Substitui, mediante as informações libertadoras do Espiritismo, os velhos hábitos, um a um, adotando novo comportamento mental, e, depois, vivencial, a fim de que a renovação se te faça contínua, incessante.
Fixa-te no propósito de vencer os velhos condicionamentos e adota as propostas de ação positiva, que te auxiliarão no crescimento íntimo.
Liberta-te dos instrumentos frágeis de justificação, evitando as fugas psicológicas à realidade, à responsabilidade.
Insiste na lapidação das arestas grosseiras da personalidade e adapta-te ao novo modo de entender e ser, incorporando à conduta as diretrizes espirituais.
Dar-te-ás conta dos benefícios imediatos que advirão, das soluções aos problemas que surgirão, enfim, de que o empenho se coroa de êxito na razão direta do esforço encetado.
*
Não foi fácil a Simão Pedro transferir-se do mar da Galiléia, onde pescava com simplicidade, para a experiência difícil no oceano tumultuado da humanidade...
Foi grandemente dolorosa a transferência psíquica, emocional e humana de Saulo de Tarso, da exaltação judaica e da opulência do Sinédrio, bem como de uma família abastada, para a atividade áspera de artesão e apóstolo de Jesus...
Maceradora foi a conduta da equivocada de Magdala, ao adotar as lições do Mestre como regra de iluminação íntima, que conseguiu a duras penas...
A História está repleta de heróis da transformação para melhor, que todos respeitam, porém, são incontáveis os conquistadores anônimos do continente da alma, que estavam perdidos e se encontraram.
O Espiritismo hoje, revivendo Jesus ontem, oferece os valiosos esclarecimentos para a felicidade, a autodescoberta, a iluminação íntima libertadora.
Para consegui-lo é, primeiro, necessário despertar.
FRANCO, Divaldo Pereira. Momentos Enriquecedores. 


Pelo Espírito Joanna de Ângelis. LEAL.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

NA JORNADA DA LUZ


No caminho de fé viva,
Sob a luz que nos governa,
Não deixes de entesourar
As bênçãos da vida eterna.

Toda fortuna terrena
Em grandes teres e bens
Começa devagarinho
Em diminutos vinténs.

Assim também, vida afora,
As graças e os dons divinos
Principiam levemente
Nos serviços pequeninos.

Um sorriso de bondade,
No espinheiro da aflição,
Descobre fontes sublimes
De paz e consolação.

Uma gota de remédio,
Um bolo, um caldo, uma flor,
No capo da Humanidade,
São sementeiras de amor.

Um livro que nos melhore
E nos ensine a pensar
É luz acessa, brilhando
No rumo do Eterno Lar.

Uma visita fraterna
Que reconforte e que ajude
Faz milagres de esperança
E estímulos de saúde.

Um gesto de caridade
Apaga muitas feridas.
Um minuto de Evangelho
Pode salvar muitas vidas. 

O silencio generoso
Da desculpa de um momento
Pode evitar muitos anos
De conflitos e sofrimento.

De gota d'água o ribeiro
É a doce e clara união.
De segundos faz-se o tempo.
De migalhas faz-se o pão.

Quem se propõe atingir
Virtude, glória e beleza,
Encete a romagem santa
Na pequena gentileza.

Se pretendes alcançar
Os sóis da Excelsa Alegria,
Aprende a galgar, amando,
Os degraus de cada dia.

Pelo Espírito Casimiro Cunha - Do livro: Caridade, Médium: Francisco Cândido Xavier.
 

domingo, 11 de outubro de 2015

AS TRÊS RESPOSTAS



Certa vez um imperador querendo satisfação no seu reinado, buscou a resposta para as seguintes perguntas:

Qual o tempo mais oportuno para se fazer cada coisa?

Quais as pessoas mais importantes com quem trabalhar?

Qual a coisa mais importante a ser feita?

O imperador publicou uma declaração, dizendo dar um alto prêmio àquele que fosse capaz de responder as perguntas. 
Inúmeras pessoas se dirigiam ao palácio oferecendo diferentes respostas.

Em resposta à primeira pergunta, alguém aconselhou o imperador a fazer um planejamento completo, dedicando todas as horas, dias, meses e ano a certas tarefas constantes da programação elaborada e observá-lo ao pé da letra. 
Só assim teria possibilidade de fazer cada coisa no tempo certo.

Uma segunda pessoa respondeu que seria planejar com antecedência, que deveria deixar todo e qualquer divertimento vão de lado e permanecer atento a tudo, a fim de saber o que fazer na hora certa.

Uma terceira pessoa disse que o imperador jamais poderia, por si próprio, ter a previsão e competência necessárias para decidir quando fazer cada coisa, e que o que ele realmente precisava era constituir um conselho de sábios e agir de acordo com que fosse determinado por estes.

Uma quarta, enfim, disse que certos assuntos requeriam providências imediatas, não podendo assim esperar por decisão de conselho, mas se o imperador quisesse saber dos acontecimentos com antecedência deveria consultar mágicos e adivinhos.

As respostas à segunda pergunta também não foram satisfatórias. Uma pessoa disse que o imperador devia depositar toda sua confiança nos administradores, outra, nos padres e monges, outra nos médicos, e, outras ainda, nos guerreiros.

A terceira pergunta trouxe uma variedade similar de respostas. 
Alguns disseram que a coisa mais importante a fazer era a ciência. Outros falaram em religião. 
Outros ainda achavam que a coisa era a arte, outros o potencial bélico.

Como nenhuma das respostas satisfez ao imperador, nenhum prêmio foi concedido.

Após refletir por várias noites, o imperador decidiu sair à procura de um eremita que vivia na montanha, e que diziam ser um homem iluminado. 
Sabia-se que ele jamais deixara a montanha e não recebia ricos nem poderosos, apenas os pobres. 
Ainda assim, o imperador decidiu ir ao seu encontro para fazer-lhe as três perguntas. disfarçado de camponês. 
O imperador ordenou aos seus criados que o esperassem ao pé da montanha enquanto ele subiria sozinho.

Ao chegar ao lugar em que vivia o eremita, o imperador viu-o lavrando a terra da horta em frente a sua pequena cabana. 
Ao avistar o forasteiro, o eremita acenou-lhe com a cabeça, continuando a capinar. 
O trabalho era bastante duro para um homem daquela idade, toda vez que enterrava a enxada na terra, para revolvê-la, um profundo suspiro acompanhava seu movimento.

Acercando-se dele o imperador falou: 
"Vim até aqui para pedir sua ajuda. 
Quero que responda três perguntas:

Qual o tempo mais oportuno para se fazer cada coisa?

Qual as pessoas mais importantes com quem trabalhar?

Qual a coisa mais importante a ser feita?"

O eremita ouviu-o atentamente mas não respondeu. 
Deu uma palmadinha amistosa no ombro do forasteiro e continuou seu trabalho. O imperador então disse: 
" Você deve estar cansado, deixe-me dar uma mão no seu trabalho". Agradecendo, o eremita passou-lhe a enxada e sentou-se no chão para descansar.

Depois de ter cavado dois canteiros, o imperador parou e, voltando-se para o eremita, repetiu suas três perguntas. 
Ao invés de responder, o eremita levantou-se e apontando para a enxada disse: 
"Por que não descansa agora? 
Eu posso retomar o meu trabalho de novo".

Mas o imperador não lhe passou a enxada e continuou a cavar. 
Assim se passaram as horas, até que o sol começou a se esconder atrás da montanha. 
O imperador colocou a enxada de lado e falou ao eremita: 
''Eu vim até aqui para ver se você seria capaz de responder minhas perguntas. 
Mas se você não puder respondê-las, por favor, me diga, para assim eu voltar para casa".

Levantando a cabeça, o eremita perguntou: 
"Está ouvindo os passos de alguém correndo ali adiante?"

O imperador voltou a cabeça e, de repente, a frente de ambos, surgiu de dentro do mato um homem com longa barba branca. 
Ofegante, o homem tentava cobrir com as mãos o sangue que escorria do ferimento no estômago, avançando em direção ao imperador, antes de tombar ao chão, inconsciente. 
Abrindo a camisa do homem o imperador e o eremita viram que ele havia recebido um corte profundo.

O imperador limpou a ferida, usando sua própria camisa para atá-la, mas o sangue empapou-a inteira depois de poucos minutos. 
O imperador então enxaguou a camisa, enfaixando a ferida pela segunda vez, assim continuando, até parar de sangrar.

Ao recobrar os sentidos, o homem pediu água. 
O imperador foi até o rio e trouxe-lhe uma cumbuca de água fresca. Nesse meio tempo a noite já havia descido e o frio se fazia sentir. 
O eremita ajudou o imperador a carregar o homem até a cabana onde o deitaram sobre a cama. 
O homem fechou os olhos e adormeceu.

Esgotado por ter passado o dia escalando a montanha e capinado a terra, o imperador encostou-se contra a porta de entrada e adormeceu. 
Quando despertou, o dia já estava claro. 
Por um momento, não se lembrava onde estava e para que tinha ido até ali. 
Esfregou os olhos e viu o homem ferido que, deitado, também olhava confuso ao redor.

Ao ver o imperador, o homem fixou-o, murmurando com voz fraca:

"Perdoe-me, por favor".

"O que fez você para que eu o perdoasse?" respondeu o imperador.

"Vossa Majestade não me conhece, mas eu o conheço. 
Eu era seu inimigo declarado e tinha jurado me vingar por meu irmão ter sido morto na guerra e por minhas propriedades terem sido confiscadas. 
Quando soube que V.M. vinha sozinho até aqui, resolvi surpreendê-lo no seu caminho de volta, e matá-lo.

Como não consegui vê-lo após ter esperado por horas a fio, escondido na mata, decidi sair a sua procura. 
Mas ao invés de encontrar V.M. dei com seus criados que me reconheceram e me feriram. 
Felizmente consegui escapar e correr até aqui. 
Se eu não o tivesse encontrado, estaria certamente morto agora. 
Eu tencionava matá-lo e V.M. salvou a minha vida. 
Não tenho palavras para expressar o quanto estou envergonhado e agradecido. 
Se eu conseguir me recuperar, juro ser seu servo pelo resto de minha vida e o mesmo ordenarei aos meus filhos e netos. 
Por favor, dê-me o seu perdão".

O imperador sentiu uma extraordinária satisfação por ver que havia se reconciliado com um ex-inimigo, tão facilmente. 
Não só lhe perdoou como também prometeu devolver-lhe todas as propriedades e mandar seu próprio médico e criados tratarem-no até que se recuperasse totalmente.

Depois de ordenar aos criados que acompanhassem o homem até o seu lar, o imperador voltou a ver o eremita. 
Queria, antes de retornar ao palácio, repetir as perguntas, uma última vez. 
Encontrou o eremita agachado, semeando a terra que haviam preparado na véspera.

Este, após ouvir novamente as perguntas do imperador, disse calmamente: "Mas suas perguntas já foram respondidas".

"Como assim?" indagou o imperador intrigado.

"Ontem, se V.M. não se tivesse compadecido de mim e me ajudado a cavar a terra, teria sido assassinado por aquele homem ao voltar para casa.

Portanto, o tempo mais oportuno foi o tempo em que esteve cavando os canteiros, a pessoa mais importante fui eu, e a coisa mais importante a fazer foi me ajudar.

Mais tarde, quando o homem ferido apareceu, o tempo mais oportuno foi o tempo em que esteve tratando de seu ferimento, pois sem seu socorro ele teria morrido e V.M. teria perdido a chance de reconciliar-se com ele.

Da mesma forma, ele foi a pessoa mais importante, e a coisa mais importante foi cuidar do seu ferimento.

Lembre-se de que só existe um tempo importante e esse tempo é o agora. O presente é o único tempo sobre o qual temos domínio.
A pessoa mais importante é o próximo, aquele que está a sua frente.

E a coisa mais importante é fazer essa pessoa feliz". 

O AMOR MAIOR DO MUNDO

Ah, eu tenho o maior amor do mundo! E isso não é privilégio meu, é de cada um de nós.

O maior amor do mundo é aquele que faz nosso coração vibrar e até chorar de vez em quando!

Ele é extraordinariamente único e maravilhoso e transforma qualquer dia chuvoso e triste na mais linda noite enluarada. 
Ah!... e com as estrelas mais brilhantes do universo!

O amor maior do mundo nos deixa assim com alma de criança, jeito de adolescente que acaba de descobrir a vida ou de adulto que perdeu um pouco do juízo...

Ele escancara as portas do coração e nos deixa à mercê de tudo. 
É tão grande que chega a doer, que chega a tirar o sono ou a razão. Tão alegre que devolve o riso.

O amor maior do mundo é tão grande que chega a ser incomparável, tão único que chega a ser individual.

É aquele que dura o bastante para ser lembrado para o resto da vida, mesmo quando não mais houver aquele "quê" que fez vibrar cada uma das fibras do nosso coração...
               

O MAIOR MILAGRE DO MUNDO...

Vejo que choras.

Sabe que também te escuto.

Fica em paz.

Acalma-te.

Eu te trago o alívio para teu pesar,
pois sei qual a causa ...

E a cura.

Não chores mais, estou contigo...

Tudo que se passou antes não se parece mais do que com este tempo em que dormiste dentro do ventre de tua mãe.

O que é passado morreu. Deixa-me partilhar contigo, mais uma vez,
o segredo que ouviste ao nascer, e esqueces-te.

És o meu maior milagre.
Tu és a coisa mais rara do mundo.

Tu chegaste, trazendo contigo, como faz toda criança, a mensagem de que eu ainda não estava desanimado do homem.

Duas células, unidas agora em milagre.
Dei-te o poder de pensar.
Dei-te o poder de amar.
Dei-te o poder de querer.
Dei-te o poder de rir.
Dei-te o poder de imaginar.
Dei-te o poder de criar.
Dei-te o poder de planejar.
Dei-te o poder de falar.
Dei-te o poder de orar.

Meu orgulho em ti não conheceu limites. 
Usa com sabedoria o teu poder de escolha.

Escolhe amar...em vez de odiar.
Escolhe rir...em vez de chorar.
Escolhe criar...em vez de destruir.
Escolhe perseverar...em vez de desistir.
Escolhe louvar...em vez de difamar.
Escolhe curar...em vez de ferir.
Escolhe dar...em vez de roubar.
Escolhe agir.em vez de lamentar.
Escolhe crescer...em vez de apodrecer.
Escolhe orar...em vez de amaldiçoar.
Escolhe viver...em vez de morrer.
Desfruta este dia, hoje... e amanhã, amanhã.

Executaste o maior milagre do mundo.

Voltaste de uma morte viva.

Não mais sentirás autocomiseração, e cada novo dia será um desafio e uma alegria.

Tu renasceste...mas, exatamente como antes, podes escolher o fracasso e o desalento, ou o êxito e a felicidade.

A escolha é tua.

A escolha é exclusivamente tua.

Eu só posso observar como antes... com satisfação... ou pesar.

Lembra-te, então, das quatro leis da felicidade e êxito.

- Conta tuas bênçãos.

- Proclama tua raridade.

- Anda mais uma milha.

- Usa sabiamente o teu poder de escolha.

E mais uma, para completar as quatro outras.

Faze todas as coisas com amor...

amor por ti próprio,
amor por todos os outros,
amor por mim.

Enxuga tuas lágrimas.

Estende a mão, apanha a minha, põe-te ereto.

Neste dia, foste notificado:

TU ÉS O MAIOR MILAGRE DO MUNDO.

            

A Esmola da Compaixão


De portas abertas ao serviço da caridade, a casa dos Apóstolos em Jerusalém vivia repleta, em rumoroso tumulto. 
Eram doentes desiludidos que vinham rogar esperança, velhinhos sem consolo que suplicavam abrigo. 
Mulheres de lívido semblante traziam nos braços crianças aleijadas, que o duro guante do sofrimento mutilara ao nascer, e, de quando em quando, grupos de irmãos generosos chegavam da via pública, acompanhando alienados mentais para que ali recolhessem o benefício da prece.

Numa sala pequena, Simão Pedro atendia, prestimoso. 
Fosse, porém, pelo cansaço físico ou pelas desilusões hauridas ao contato com as hipocrisias do mundo, o antigo pescador acusava irritação e fadiga, a se expressarem nas exclamações de amargura que não mais podia conter.

- Observa aquele homem que vem lá, de braços secos e distendidos? - gritava para Zenon, o companheiro humilde que lhe prestava concurso - aquele é Roboão, o miserável que espancou a própria mãe, numa noite de embriaguez... Não é justo sofra, agora, as consequências?

E pedia para que o enfermo não lhe ocupasse a atenção.

Logo após, indicando feridenta mulher que se arrasava, buscando-o, exclamou, encolerizado:

- Que procuras, infeliz? Gozaste no orgulho e na crueldade, durante longos anos... Muitas vezes, ouvi-te o riso imundo à frente dos escravos agonizantes que espancavas até à morte... Fora daqui! Fora daqui!...

E a desmandar-se nas indisposições de que se via tocado, em seguida bradou para um velho paralítico que lhe implorava socorro:

- Como não te envergonhas de comparecer no pouso do Senhor, quando sempre devoraste o ceitil das viúvas e dos órfãos? Tuas arcas transbordam de maldições e de lágrimas... O pranto das vítimas é grilhão nos teus pés...

E, por muitas horas, fustigou as desventuras alheias, colocando à mostra, com palavras candentes e incisivas, as deficiências e os erros de quantos lhe vinham suplicar reconforto.

Todavia, quando o Sol desaparecera distante e a névoa crepuscular invadira o suave refúgio, modesto viajante penetrou o estreito cenáculo, exibindo nas mãos largas nódoas sanguinolentas. No compartimento, agora vazio, apenas o velho pescador se dispunha à retirada, suarento e abatido. O recém-vindo, silencioso, aproximou-se, sutil, e tocou-o docemente. O conturbado discípulo do Evangelho só assim lhe deu atenção, clamando, porém, impulsivo:

- Quem és tu, que chegas a estas horas, quando o dia de trabalho já terminou?

E porque o desconhecido não respondesse, insistiu com inflexão de censura:

- Avia-te sem demora! Dize depressa a que vens...

Nesse instante, porém, deteve-se a contemplar as rosas de sangue que desabotoavam naquelas mãos belas e finas. Fitou os pés descalços, dos quais transpareciam, ainda vivos, os rubros sinais dos cravos da cruz e, ansioso, encontrou no estranho peregrino o olhar que refletia o fulgor das estrelas...

Perplexo e desfalecente, compreendeu que se achava diante do Mestre, e, ajoelhando-se, em lágrimas, gemeu, aflito:

- Senhor! Senhor! Que pretendes de teu servo?

Foi então que Jesus redivivo afagou-lhe a atormentada cabeça e falou em voz triste:

- Pedro, lembra-te de que não fomos chamados para socorrer as almas puras... Venho rogar-te a caridade do silêncio quando não possas auxiliar! Suplico-te para os filhos de minha esperança a esmola da compaixão...

O rude, mas amoroso pescador de Cafarnaum, mergulhou a face nas mãos calosas para enxugar o pranto copioso e sincero, e quando ergueu, de novo, os olhos para abraçar o visitante querido, no aposento isolado somente havia a sombra da noite que avançava de leve...

      


Da obra: ‘Contos e Apólogos’. Ditada pelo Espírito ‘Irmão X’, através da mediunidade de Francisco Cândido Xavier.



Deus é a inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas.
É eterno, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom.
A prece é um ato de adoração a Deus.
Está na lei natural e é o resultado de um sentimento inato no homem, assim como é inata a ideia da existência do Criador.
Todas as leis da Natureza são leis divinas, pois que Deus é o seu autor.
Abrangem tanto as leis físicas como as leis morais.
Deus criou o Universo, que abrange todos os seres animados e inanimados, materiais e imateriais.
Os seres materiais constituem o mundo visível ou corpóreo, e os seres imateriais, o mundo invisível ou espírita, isto é, dos Espíritos.
Os Espíritos são os seres inteligentes da criação.
Constituem o mundo dos Espíritos, que preexiste e sobrevive a tudo.
Os Espíritos são criados simples e ignorantes.
Evoluem, intelectual e moralmente, passando de uma ordem inferior para outra mais elevada, até a perfeição, onde gozam de inalterável felicidade.
O mundo espírita é o mundo normal, primitivo, eterno, preexistente e sobrevivente a tudo.
O mundo corporal é secundário; poderia deixar de existir, ou não ter jamais existido, sem que por isso se alterasse a essência do mundo espírita.
No Universo, além da Terra, há outros mundos habitados, com seres de diferentes graus de evolução: mais evoluídos e menos evoluídos.
Entre as diferentes espécies de seres corpóreo, Deus escolheu a espécie humana para a encarnação dos Espíritos que chegaram a certo grau de desenvolvimento, dando-lhe superioridade moral e intelectual sobre as outras.
O homem tem o livre-arbítrio para agir, mas responde pelas consequências de suas ações.
A vida futura reserva aos homens penas e gozos compatíveis com o procedimento de respeito ou não à Lei de Deus.
O homem é um Espírito encarnado em um corpo material.
Os Espíritos revestem temporariamente um invólucro material perecível, cuja destruição pela morte lhes restitui a liberdade.
O perispírito é o corpo semi material que une o Espírito ao corpo material.
A alma é um Espírito encarnado, sendo o corpo apenas o seu envoltório.
Há no homem três coisas:
1°, O corpo ou ser material análogo aos animais e animado pelo mesmo princípio vital.
2°, A alma ou ser imaterial, Espírito encarnado no corpo.
3°, O perispírito, laço que prende a alma ao corpo, princípio intermediário entre a matéria e o Espírito.
Tem assim o homem duas naturezas: pelo corpo, participa da natureza dos animais, cujos instintos lhe são comuns; pela alma, participa da natureza dos Espíritos.
O laço ou perispírito, que prende o corpo ao Espírito, é uma espécie de envoltório semi material.
A morte é a destruição do invólucro mais grosseiro.
O Espírito conserva o segundo, que lhe constitui um corpo etéreo, invisível para nós no estado normal, porém que pode tornar-se acidentalmente visível e mesmo tangível, como sucede no fenômeno das aparições.
O Espírito não é, pois, um ser abstrato, indefinido, só possível de conceber-se pelo pensamento.
É um ser real, circunscrito, que, em certos casos, se torna apreciável pela vista, pelo ouvido e pelo tato.
Os Espíritos pertencem a diferentes classes e não são iguais, nem em poder, nem em inteligência, nem em saber, nem em moralidade.
Os da primeira ordem são os Espíritos superiores, que se distinguem dos outros pela sua perfeição, seus conhecimentos, sua proximidade de Deus, pela pureza de seus sentimentos e por seu amor do bem: são os anjos ou Espíritos puros.
Os das outras classes se acham cada vez mais distanciados dessa perfeição, mostrando-se os das categorias inferiores, na sua maioria, eivados das nossas paixões: o ódio, a inveja, o ciúme, o orgulho etc.
Comprazem-se no mal. Há também, entre os inferiores, os que não são nem muito bons nem muito maus, antes perturbadores e enredadores, do que perversos.
A malícia e a inconsequência parecem ser o que neles predomina.
São os Espíritos estúrdios ou levianos.
Os Espíritos não ocupam perpetuamente a mesma categoria.
Todos se melhoram passando pelos diferentes graus da hierarquia espírita.
Esta melhora se efetua por meio da encarnação, que é imposta a uns como expiação, a outros como missão.
A vida material é uma prova que lhes cumpre sofrer repetidamente, até que hajam atingido a absoluta perfeição moral.
Deixando o corpo, a alma volve ao mundo dos Espíritos, donde saíra, para passar por nova existência material, após um lapso de tempo mais ou menos longo, durante o qual permanece em estado de Espírito errante.
Os Espíritos preservam sua individualidade, antes, durante e depois de cada encarnação.
A alma possuía sua individualidade antes de encarnar; conserva-a depois de se haver separado do corpo.
Na sua volta ao mundo dos Espíritos, encontra ela todos aqueles que conhecera na Terra, e todas as suas existências anteriores se lhe desenham na memória, com a lembrança de todo bem e de todo mal que fez.
Os Espíritos reencarnam tantas vezes quantas forem necessárias ao seu próprio aprimoramento.
Tendo o Espírito que passar por muitas encarnações, segue-se que todos nós temos tido muitas existências e que teremos ainda outras, mais ou menos aperfeiçoadas, quer na Terra, quer em outros mundos.
Os Espíritos evoluem sempre.
As diferentes existências corpóreas do Espírito são sempre progressivas e nunca regressivas; podem estacionar, mas nunca regridem.
Mas, a rapidez do seu progresso intelectual e moral depende dos esforços que façam para chegar à perfeição.
As qualidades da alma são as do Espírito que está encarnado em nós; assim, o homem de bem é a encarnação de um bom Espírito, o homem perverso a de um Espírito impuro.
O Espírito encarnado se acha sob a influência da matéria; o homem que vence esta influência, pela elevação e depuração de sua alma, se aproxima dos bons Espíritos, em cuja companhia um dia estará.
Aquele que se deixa dominar pelas más paixões, e põe todas as suas alegrias na satisfação dos apetites grosseiros, se aproxima dos Espíritos impuros, dando preponderância à sua natureza animal.
Os Espíritos encarnados habitam os diferentes globos do Universo.
Os não encarnados ou errantes não ocupam uma região determinada e circunscrita; estão por toda parte no espaço e ao nosso lado, vendo-nos e acotovelando-nos de contínuo.
É toda uma população invisível, a mover-se em torno de nós.
Os Espíritos exercem incessante ação sobre o mundo moral e mesmo sobre o mundo físico.
Atuam sobre a matéria e sobre o pensamento e constituem uma das potências da Natureza, causa eficiente de uma multidão de fenômenos até então inexplicados ou mal explicados e que não encontram explicação racional senão no Espiritismo.
As relações dos Espíritos com os homens são constantes.
Os bons Espíritos nos atraem para o bem, nos sustentam nas provas da vida e nos ajudam a suportá-las com coragem e resignação.
Os maus nos impelem para o mal: é-lhes um gozo ver-nos e assemelhar-nos a eles.
As comunicações dos Espíritos com os homens são ocultas ou ostensivas.
As ocultas se verificam pela influência boa ou má que exercem sobre nós, à nossa revelia.
Cabe ao nosso juízo discernir as boas das más inspirações.
As comunicações ostensivas se dão por meio da escrita, da palavra ou de outras manifestações materiais, quase sempre pelos médiuns que lhes servem de instrumentos.
Os Espíritos se manifestam espontaneamente ou mediante evocação.
Podem evocar-se todos os Espíritos: os que animaram homens obscuros, como os das personagens mais ilustres, seja qual for a época em que tenham vivido; os de nossos parentes, amigos, ou inimigos, e obter-se deles, por comunicações escritas ou verbais, conselhos, informações sobre a situação em que se encontram no Além, sobre o que pensam a nosso respeito, assim como as revelações que lhes sejam permitidas fazer-nos.
Os Espíritos são atraídos na razão da simpatia que lhes inspire a natureza moral do meio que os evoca.
Os Espíritos superiores se comprazem nas reuniões sérias, onde predominam o amor do bem e o desejo sincero, por parte dos que as compõem, de se instruírem e melhorarem. A presença deles afasta os Espíritos inferiores que, inversamente, encontram livre acesso e podem obrar com toda a liberdade entre pessoas frívolas ou impelidas unicamente pela curiosidade e onde quer que existam maus instintos.
Longe de se obterem bons conselhos, ou informações úteis, deles só se devem esperar futilidades, mentiras, gracejos de mau gosto, ou mistificações, pois que muitas vezes tomam nomes venerados, a fim de melhor induzirem ao erro.
Distinguir os bons dos maus Espíritos é extremamente fácil.
Os Espíritos superiores usam constantemente de linguagem digna, nobre, repassada da mais alta moralidade, escoimada de qualquer paixão inferior; a mais pura sabedoria lhes transparece dos conselhos, que objetivam sempre o nosso melhoramento e o bem da Humanidade.
A dos Espíritos inferiores, ao contrário, é inconsequente, amiúde trivial e até grosseira. Se, por vezes, dizem alguma coisa boa e verdadeira, muito mais vezes dizem falsidades e absurdos, por malícia ou ignorância.
Zombam da credulidade dos homens e se divertem à custa dos que os interrogam, lisonjeando-lhes a vaidade, alimentando-lhes os desejos com falazes esperanças.
Em resumo, as comunicações sérias, na mais ampla acepção do termo, só são dadas nos centros sérios, onde intima comunhão de pensamentos, tendo em vista o bem.
A moral dos Espíritos superiores se resume, como a do Cristo, nesta máxima evangélica:
Fazer aos outros o que quereríamos que os outros nos fizessem, isto é, fazer o bem e não o mal.
Neste princípio encontra o homem uma regra universal de proceder, mesmo para as suas menores ações.
Ensinam-nos que o egoísmo, o orgulho, a sensualidade são paixões que nos aproximam da natureza animal, prendendo-nos à matéria; que o homem que, já neste mundo, se desliga da matéria, desprezando as futilidades mundanas e amando o próximo, se avizinha da natureza espiritual; que cada um deve tornar-se útil, de acordo com as faculdades e os meios que Deus lhe pôs nas mãos para experimentá-lo; que o Forte e o Poderoso devem amparo e proteção ao Fraco, porquanto transgride a Lei de Deus aquele que abusa da força e do poder para oprimir o seu semelhante.
Ensinam, finalmente, que, no mundo dos Espíritos, nada podendo estar oculto, o hipócrita será desmascarado e patenteadas todas as suas torpezas, que a presença inevitável, e de todos os instantes, daqueles para com quem houvermos procedido mal constitui um dos castigos que nos estão reservados; que ao estado de inferioridade e superioridade dos Espíritos correspondem penas e gozos desconhecidos na Terra.
Mas, ensinam também não haver faltas irremissíveis, que a expiação não possa apagar. Meio de consegui-lo encontra o homem nas diferentes existências que lhe permitem avançar, conformemente aos seus desejos e esforços, na senda do progresso, para a perfeição, que é o seu destino final.
Jesus é o guia e modelo para toda a Humanidade.
E a Doutrina que ensinou e exemplificou é a expressão mais pura da Lei de Deus.
A moral do Cristo, contida no Evangelho, é o roteiro para a evolução segura de todos os homens, e a sua prática é a solução para todos os problemas humanos e o objetivo a ser atingido pela Humanidade.
Este o resumo da Doutrina Espírita, como resulta dos ensinamentos dados pelos Espíritos superiores. Da obra: 'O Livro dos Espíritos' - Allan Kardec
                       


CENTRO  ESPIRITA  AMOR  E FRATERNIDADE

       CATANDUVA - SP

O Homem Novo


Para construir um mundo novo precisamos de um homem novo. 
O mundo está cheio de erros e injustiças porque é a soma dos erros e injustiças dos homens.

Todos sabemos que temos de morrer, mas só nos preocupamos com o viver passageiro da Terra. 
Por isso, a humanidade desencarnada que nos rodeia é ainda mais sofredora e miserável que a encarnada a que pertencemos. 
“As filas de doentes que eu atendia na vida terrena — diz a mensagem de um espírito — continuam neste lado.”

Muita gente estranha que nas sessões espíritas se manifestem tantos espíritos sofredores. 

Seria de estranhar se apenas se manifestassem espíritos felizes. 
Basta olharmos ao nosso redor — e também para dentro de nós mesmos — para vermos de que barro é feita a criatura humana em nosso planeta. 
Fala-se muito em fraude e mistificação no Espiritismo, como se ambas não estivessem em toda parte, onde quer que exista uma criatura humana. 
Espíritos e médiuns que fraudam são nossos companheiros de plano evolutivo, nossos colegas de fraudes cotidianas.

O Espiritismo está na Terra, em cumprimento à promessa evangélica do Consolador, para consolar os aflitos e oferecer a verdade aos que anseiam por ela. 
Sua missão é transformar o homem para que o mundo se transforme. 
Há muita gente querendo fazer o contrário: mudar o mundo para mudar o homem.

O Espiritismo ensina que a transformação é conjunta e recíproca, mas tem de começar pelo homem.

Enquanto o homem não melhora, o mundo não se transforma. Inútil, pois, apelar para modificações superficiais. 
Temos de insistir na mudança essencial de nós mesmos.

O homem novo que nos dará um mundo novo é tão velho quanto os ensinos espirituais do mais remoto passado, renovados pelo Evangelho e revividos pelo Espiritismo.

Sem amor não há justiça e sem verdade não escaparemos à fraude, à mistificação, à mentira, à traição.

O trabalho espírita é a continuação natural e histórica do trabalho cristão que modificou o mundo antigo. 
Nossa luta é o bom combate do apóstolo Paulo: despertar as consciências e libertar o homem do egoísmo, da vaidade e da ganância.

Do livro “O Homem Novo” - Herculano Pires