quarta-feira, 8 de julho de 2015

Verdadeira pureza. 
Mãos não lavadas

Então os escribas e os fariseus, que tinham vindo de Jerusalém, aproximaram-se de Jesus e lhe disseram: 
“Por que violam os teus discípulos a tradição dos antigos, uma vez que não lavam as mãos quando fazem suas refeições?”
Jesus lhes respondeu: 
“Por que violais vós outros o mandamento de Deus, para seguir a vossa tradição? 
Porque Deus pôs este mandamento: 
Honrai a vosso pai e a vossa mãe; e este outro: 
Seja punido de morte aquele que disser a seu pai ou a sua mãe palavras ultrajantes; e vós outros, no entanto, dizeis: 
Aquele que haja dito a seu pai ou a sua mãe: Toda oferenda que faço a Deus vos é proveitosa, satisfaz à lei, — ainda que depois não honre, nem assista a seu pai ou à sua mãe. 

Tornam assim inútil o mandamento de Deus, pela vossa tradição.
Hipócritas, bem profetizou de vós Isaías, quando disse: 
Este povo me honra de lábios, mas conserva longe de mim o coração; é em vão que me honram ensinando máximas e ordenações humanas.”
Depois, tendo chamado o povo, disse: 
“Escutai e compreendei bem isto: 
— Não é o que entra na boca que macula o homem; o que sai da boca do homem é que o macula. 
— O que sai da boca procede do coração e é o que torna impuro o homem; — porquanto do coração é que partem os maus pensamentos, os assassínios, os adultérios, as fornicações, os latrocínios, os falsos-testemunhos, as blasfêmias e as maledicências. 
— Essas são as coisas que tornam impuro o homem; o comer sem haver lavado as mãos não é o que o torna impuro.” 
Então, aproximando-se, disseram-lhe seus discípulos: 
“Sabeis que, ouvindo o que acabais de dizer, os fariseus se escandalizaram?” 
— Ele, porém, respondeu: 
“Arrancada será toda planta que meu Pai celestial não plantou. 
— Deixai-os, são cegos que conduzem cegos; se um cego conduz outro, caem ambos no fosso.” (S. Mateus, cap. XV, vv. 1 a 20.)

Enquanto ele falava, um fariseu lhe pediu que fosse jantar em sua companhia. Jesus foi e sentou-se à mesa. 
— O fariseu entrou então a dizer consigo mesmo:
 “Por que não lavou ele as mãos antes de jantar?” 
Disse-lhe, porém, o Senhor: 
“Vós outros, fariseus, pondes grandes cuidado em limpar o exterior do copo e do prato; entretanto, o interior dos vossos corações está cheio de rapinas e de iniquidades. 
Insensatos que sois! aquele que fez o exterior não é o que faz também o interior?” (S. LUCAS, cap. XI, vv. 37 a 40.)

Os judeus haviam desprezado os verdadeiros mandamentos de Deus para se aferrarem à prática dos regulamentos que os homens tinham estatuído e da rígida observância desses regulamentos faziam casos de consciência. 

A substância, muito simples, acabara por desaparecer debaixo da complicação da forma. 
Como fosse muito mais fácil praticar atos exteriores, do que se reformar moralmente, lavar as mãos do que expurgar o coração, iludiram-se a si próprios os homens, tendo-se como quites para com Deus, por se conformarem com aquelas práticas, conservando-se tais quais eram, visto se lhes ter ensinado que Deus não exigia mais do que isso. 
Daí o haver dito o profeta: 
É em vão que este povo me honra de lábios, ensinando máximas e ordenações humanas.

Verificou-se o mesmo com a doutrina moral do Cristo, que acabou por ser atirada para segundo plano, donde resulta que muitos cristãos, a exemplo dos antigos judeus, consideram mais garantida a salvação por meio das práticas exteriores, do que pelas da moral. 

É a essas adições, feitas pelos homens à lei de Deus, que Jesus alude, quando diz:
Arrancada será toda planta que meu Pai celestial não plantou.
O objetivo da religião é conduzir a Deus o homem. 
Ora, este não chega a Deus senão quando se torna perfeito. 
Logo, toda religião que não torna melhor o homem, não alcança o seu objetivo. Toda aquela em que o homem julgue poder apoiar-se para fazer o mal, ou é falsa, ou está falseada em seu princípio. 
Tal o resultado que dão as em que a forma sobreleva ao fundo. 

Nula é a crença na eficácia dos sinais exteriores, se não obsta a que se cometam assassínios, adultérios, espoliações, que se levantem calúnias, que se causem danos ao próximo, seja no que for. 
Semelhantes religiões fazem supersticiosos, hipócritas, fanáticos; não, porém, homens de bem.
Não basta se tenham as aparências da pureza; acima de tudo, é preciso ter a do coração.

(Fonte: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. VIII, itens 8 a 10.)

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