terça-feira, 26 de maio de 2015

                              ''A Doutrinação''                                              Parte 2/4


A postura do doutrinador

Orgulhoso e inútil, e até mesmo prejudicial, será o doutrinador que se julgar capaz de doutrinar por si mesmo. Sua eficiência depende sempre de sua humildade, que lhe permite compreender a necessidade de ser auxiliado pelos Espíritos bons. 

O doutrinador que não compreende esse princípio precisa de doutrinação e esclarecimento para alijar de seu espírito a vaidade e a pretensão. 

Só pode realmente doutrinar Espíritos quem tiver amor e humildade.

Mas é importante não confundirmos humildade com atitudes piegas, com melosidade.

Muitas vezes a doutrinação exige atitudes enérgicas, não ofensivas ou agressivas, mas firmes e imperiosas. 

É o momento em que o doutrinador, firmado em sua humildade natural – decorrente da consciência que tem das suas limitações humanas – trata o obsessor com autoridade moral, a única autoridade que podemos ter sobre os Espíritos inferiores. 

Esses Espíritos sentem a nossa autoridade e se submetem a ela, em virtude da força moral de que dispusermos. 

Essa autoridade só a conseguimos por meio de uma vivência digna no mundo, sendo sempre corretos em nossas intenções e em nossos atos, em todos os sentidos. 

As nossas falhas morais não combatidas, não controladas, diminuem a nossa autoridade sobre os obsessores. Isso nos mostra o que é a moral: poder espiritual que nasce da retidão do espírito. 

Não se trata da moral convencional, das regras da moral social, mas da moral individual, íntima e profunda, que realiza a integração espiritual do ser voltado para o bem e a verdade.

Mas essa integração não se consegue com sistemas ou processos artificiais, com reformas íntimas impostas de fora para dentro como geralmente se pensa. 

Existe a moral exógena, que nos é imposta de fora pelas conveniências da convivência humana. 

Essa moral exógena, pelo simples fato de se fundar em interesses imediatos do homem e não do ser é a casa construída na areia segundo a parábola evangélica. 

A moral de que necessitamos é endógena, vem de dentro para fora, brota da compreensão real e profunda no sentimento da vida. 

É a moral espontânea, determinada por uma consciência esclarecida que não se rende aos interesses imediatistas da vida social.

A doutrinação praticada com plena consciência desses princípios atinge o obsessor, o obsedado, os assistentes encarnados e desencarnados e particularmente o próprio doutrinador, que se doutrina doutrinando os outros. 

Note-se a importância e o alcance de uma doutrinação assim praticada. 

É ela a alavanca com que podemos deslocar a mente do charco de pensamentos e sentimentos inferiores, egoístas e maldosos em que se afundou. 

É, por isso mesmo, a alavanca com a qual podemos mover o mundo, como queria Arquimedes, para colocá-lo na órbita do Espírito. 

Podemos usar essa alavanca em todos os instantes: no silêncio da nossa mente, na atividade incessante do nosso pensamento, na conversação séria ou até mesmo fútil, nas relações com o próximo, nas discussões dos mais variados problemas, na exposição dos princípios doutrinários aos que desejam ouvir-nos, numa carta, num bilhete, numa saudação social – mas sempre com discrição, sem insistências perturbadoras, sem carranca e seriedade formal. 

O primeiro sintoma da nossa compreensão desse problema é a alegria que nos ilumina por dentro e se irradia ao nosso redor, contagiando os outros. Porque a vida é uma bênção e portanto é alegria e não tristeza, jovialidade e não carrancismo.

Do livro “Obsessão, o passe, a doutrinação”
J. Herculano Pires - Editora Paidéia

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