sábado, 27 de agosto de 2016

Sexo e Amor, por Joanna de Ângelis

Por: Joanna de Ângelis

Na sua globalidade, o amor é sentimento vinculado ao Self enquanto que a 
busca do prazer sexual está mais pertinente ao ego, responsável por todo tipo de 
posse.

O sentimento de amor pode levar a uma comunhão sexual, sem que isso lhe seja 
condição imprescindível. No entanto, o prazer sexual pode ser conseguido pelo impulso 
meramente instintivo, sem compromisso mais significativo com a outra pessoa, que, 
normalmente se sente frustrada e usada.

Os profissionais do sexo, porque perdem o componente essencial dos estímulos, em razão 
do abuso de que se fazem portadores, derrapam nas explosões eróticas, buscando recursos 
visuais que lhes estimulem a mente, a fim de que a função possa responder de maneira 
positiva. Mecanicamente se desincumbem da tarefa animal e violenta, tampouco 
satisfazendo-se, porquanto acreditam que estão em tarefa de aliciamento de vidas para o 
comércio extravagante e nefando da venda das sensações fortes, a que se habituaram.

O amor, como componente para a função sexual, é meigo e judicioso, começando pela 
carícia do olhar que se enternece e vibra todo o corpo ante a expectativa da comunhão 
renovadora.

Essa libido tormentosa, veiculada pela mídia e exposta nas lojas em forma de artefatos, 
torna-se aberração que passa para exigências da estroinice, resvalando nos abismos de outros 
vícios que se lhe associam.

Quando o sexo se apresenta exigente e tormentoso, o indivíduo recorre aos expedientes 
emocionais da violência, da perseguição, da hediondez.

Os grandes carrascos da Humanidade, até onde se os pode entender, eram portadores de 
transtornos sexuais, que procuravam dissimular, transferindo-se para situações de relevo 
político, social, guerreiro, tornando-se temerários, porque sabiam da impossibilidade de 
serem amados.

Quando o amor domina as paisagens do coração, mesmo existindo quaisquer dificuldades de 
ordem sexual, faz-se possível superá-las, mediante a transformação dos desejos e frustrações em solidariedade, em arte, em construção do bem, que visam ao progresso das pessoas, assim 
como da comunidade, tornando-se, portanto, irrelevantes tais questões.

O ser humano, embora vinculado ao sexo pelo atavismo da reprodução, está fadado ao amor, 
que tem mais vigor do que o simples intercurso genital.

Sem dúvida, por outro lado, as grandes edificações de grandeza da humanidade tiveram no 
sexo o seu élan de estímulo e de força. Não obstante, persegue-se o sucesso, a glória efêmera, o 
poder para desfrutar dos prazeres que o sexo proporciona, resvalando-se em equívoco 
lamentável e perturbador.

O amor à arte e à beleza igualmente inspirou Miguel Ângelo a pintar a capela Sistina, dentre 
outras obras magistrais, a esculpir la Pietá e o Moisés; o amor à ciência conduziu 
Pasteur à descoberta dos micróbios; o amor à verdade levou Jesus à cruz, traçando uma 
rota de segurança para as criaturas humanas de todos os tempos...

O amor é o doce elevo que embriaga de paz os seres e os promove aos píncaros da 
auto-realização, estimulando o sexo dignificado, reprodutor e calmante.

Sexo, em si mesmo, sem os condimentos do amor é impulso violento e fugaz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário