sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Entrevista com Richard Simonetti sobre Pretos Velhos


1 – O que dizer da manifestação de pretos velhos no Centro Espírita, com seu linguajar 
peculiar? Não devem ser estimulados a mudar a postura, instruindo-se?

R: Parece-me que a evolução não tem nada a ver com a expressão física ou linguística. 
Espíritos que se manifestam como pretos velhos podem ser muito evoluídos, tanto quanto 
branquelos podem ser atrasados.

 2 –     O problema é quando Espíritos apresentam-se como orientadores. Fica complicado 
aceitar que um mentor não tenha aprendido a falar.

R:  Kardec orienta que devemos considerar o conteúdo, não a forma. Respeitando a 
opção do Espírito, tudo o que nos compete avaliar é se sua mensagem guarda compatibilidade 
com os princípios espíritas.

 3 –     Não devemos, portanto, opor resistência à manifestação de pretos velhos, índios, 
caboclos?…

R: Não vejo motivo para cultivar preconceitos, mesmo porque, não raro, Espíritos dessa 
condição, menos esclarecidos e ainda vinculados às tradições da raça, manifestam-se para 
serem ajudados, não para receberem lições de português.

 4 -     E se estivermos diante de um condicionamento mediúnico, médiuns falando como 
pretos velhos por imitação?

R: É um problema que compete ao dirigente resolver, avaliando se está diante de 
manifestação autêntica ou de mero condicionamento a partir da influência de outros médiuns. 
Não costuma acontecer com médiuns que se preparam adequadamente em cursos específicos 
sobre mediunidade.

 5 –     Diante de uma manifestação autêntica, se o preto velho é um Espírito evoluído, não
 será razoável que se manifeste com linguagem escorreita, sem maneirismos?

R:  Penso que não devemos impor condições ao manifestante. Os Espíritos desencarnados, 
quando evoluídos, podem adotar a forma e o linguajar que lhes aprouver. É uma opção e um
 direito.

 6 –     Por que o fazem?

R: Pretos velhos revivem, nas manifestações, o tempo em que estiveram em regime de 
escravidão, que lhes foi muito útil, ajudando-os a superar o orgulho que marca o 
comportamento humano. É uma homenagem que prestam à raça negra e um 
exercício de humildade.

 7 –     Quanto à morfologia perispiritual, tudo bem. Quanto à palavra, não seria interessante 
usar uma linguagem atual, não africanizada?

R: Pode acontecer, mas aí vai depender do próprio grupo e de uma adequação dos 
médiuns. O Centro Espírita Amor e Caridade, em Bauru, foi orientado desde sua fundação, em 1919, 
por uma corrente africana. Seus representantes, em dado momento, observando a 
evolução do grupo, na década de 40, disseram: Pretalhada vai vestir casaca. Anunciavam por
 esta metáfora que a partir daquele momento eliminariam as expressões africanizadas, o que de
fato ocorreu.

 8 –     Devemos, então, admitir que esses Espíritos façam uma adequação do linguajar, de conformidade com as tendências ou necessidades do grupo?

R:  Exatamente. Um confrade, médium vidente, visitou certa feita um grande terreiro de 
Umbanda, em Vitória, Espírito Santo. Viu algo que o perturbou: o Espírito Frederico Figner, 
que foi dedicado diretor da Federação Espírita Brasileira, manifestar-se como um preto 
velho. Julgou estar tendo uma alucinação e logo esqueceu. Algum tempo depois, em visita a 
Uberaba, ouviu alguém perguntar a Chico Xavier por onde andaria Frederico Figner. E o 
médium: Anda dando assistência a um terreiro de umbanda em Vitória, no Espírito Santo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário