Considerações sobre as Mortes Coletivas
Falar de qualquer acidente de grandes proporções requer de nós bom senso e muita responsabilidade, especialmente em respeito aos familiares.
Normalmente, diante de eventos como os recentes acidentes aéreos no Brasil, somos levados à ideia simplista do “pagar os débitos do passado”.
Muitos chegam a acreditar que a Espiritualidade é quem promove as circunstâncias para que tais acidentes aconteçam, esquecendo-se que eles têm como causa a falta ou o erro humano.
As catástrofes e tragédias não devem ser consideradas um “castigo de Deus”, mas a necessidade dos Espíritos, em sua jornada evolutiva, reparar individual ou coletivamente alguns erros do passado.
Isso ainda acontece porque nos encontramos em um Planeta de Provas e Expiações.
A Terra recebe Espíritos em dívida com as Leis Divinas, e os acidentes de hoje podem representar valiosa oportunidade de colher os frutos dos atos desastrosos plantados no passado.
O Espírito pode escolher provas para galgar novos horizontes espirituais, e os momentos de dor e sofrimento acabam resultando em novas conquistas tecnológicas, científicas e/ou morais, que impulsionarão o progresso das coletividades.
Em cada nova existência, os Espíritos sobem um degrau na escala do aperfeiçoamento, e a destruição é uma necessidade para a regeneração moral destes Espíritos. “Preciso é que se veja o objetivo, para que os resultados possam ser apreciados”.
Costumamos apreciar estas tragédias apenas do nosso ponto de vista pessoal, classificando-as considerando apenas o prejuízo que nos causam.
No entanto, “essas subversões são freqüentemente necessárias para que mais pronto se dê o advento de uma melhor ordem de coisas e para que se realize em alguns anos o que teria exigido muitos séculos”.
Primeiro, o fato de tantas desencarnações ocorrerem no mesmo evento não significa que todos os Espíritos envolvidos erraram juntos em outras existências, mas pode ser que cometeram erros semelhantes.
Ou seja, num acidente de grandes proporções, podem desencarnar inúmeras pessoas, mas cada qual com seus compromissos nos Tribunais da Justiça Divina, até mesmo sem relação entre eles.
Os dois conceitos têm por base a mesma ideia.
O Carma, na concepção das religiões orientais, guarda uma relação muito estreita com o “olho por olho, dente por dente”, sugerindo que o indivíduo deve sofrer conforme fez sofrer, passar pelas situações penosas que submeteu os outros.
Já para a Doutrina Espírita, o entendimento da Lei de Causa e Efeito amplia muito a noção do Carma, ao considerar que não somente pela dor, mas também pelo amor, o Espírito pode reparar-se frente à Lei Divina.
As consciências endividadas podem melhorar seus créditos com os Tribunais Divinos todos os dias, através do trabalho em favor do próximo e do amor fraterno aos deserdados do mundo.
Gerando novas causas com o bem praticado hoje, o Espírito interfere nas causas do mal praticado ontem, neutralizando-as e reconquistando o equilíbrio.
Há, imperiosamente, a necessidade de reparação, mas não de punição.
Nas palavras de Pedro, “o amor cobre a multidão de pecados”.
Assim, estes Espíritos, que outrora atiraram irmãos indefesos do cimo de torres altíssimas, cometeram hediondos crimes sobre o dorso do mar ou foram suicidas que se despenharam de arrojados edifícios ou de picos agrestes, optam por tarefas no campo da Aeronáutica, a cuja evolução oferecem suas vidas.
A maioria, por força dos débitos contraídos e dos apelos da própria consciência, não alcança semelhante prerrogativa, cabendo-lhe aceitar sem discutir amargas provas, na infância, na mocidade ou na velhice, através de acidentes diversos, desde a mutilação primária até a morte, de modo a redimir-se de faltas graves.
Deus, em sua infinita bondade, oferece-nos inúmeros instrumentos de progresso, através do conhecimento do bem e do mal, mas, como seres imperfeitos que ainda somos, constantemente optamos por seguir os caminhos mais ásperos e tortuosos da vida. O homem que não se aproveita dessas oportunidades acaba sendo castigado em seu orgulho, para o despertar necessário.
Ainda, renascem na tutela dos pais que faliram junto dos filhos em outras épocas, a fim de que aprendam na saudade cruel e na angústia inominável, o respeito e o devotamento, a honorabilidade e o carinho que todos devemos na Terra ao instituto da família.
Deste modo, a dor coletiva é o remédio que nos corrige as falhas mútuas.
Naturais são aquelas causadas pela natureza, como por exemplo a peste, a fome, as inundações, os terremotos, os vendavais, entre outros, e haverão de cessar quando a Terra deixar de ser mundo expiatório.
Já as tragédias provocadas pelo homem revelam predominância da matéria sobre o Espírito e representam uma grave infração à Lei de Deus.
De todos os flagelos destruidores provocados pelo homem, a guerra é o mais doloroso. Mas, à medida que o homem progride, menos freqüentes se tornam os flagelos, por que ele lhe evita as causas.
Um momento chega em que o excesso do mal moral se torna intolerável e impõe ao homem a necessidade de mudar de vida.
Instruído pela experiência, ele se sente compelido a procurar no bem o remédio, sempre por efeito do seu livre-arbítrio.
Quando toma melhor caminho, é por sua vontade e porque reconheceu os inconvenientes do outro.
A necessidade, pois, os constrange a melhorar-se moralmente, para ser mais feliz, do mesmo modo que o constrangeu a melhorar as condições materiais da sua existência”.
A Doutrina Espírita compreende esses sofrimentos como parte da programação reencarnatória dos Espíritos, representando, em última análise, medidas de reajuste perante a Lei de Deus.
Confiemos na sua Vontade, que é representação de seu Amor, Justiça e Bondade para com as criaturas.
Nesse ponto, reflitamos sobre o exposto no Item 6, Cap. V, de O Evangelho Segundo o Espiritismo: “...por virtude do axioma segundo o qual todo efeito tem uma causa, tais misérias são efeitos que hão de ter uma causa e, desde que se admita um Deus justo, essa causa também há de ser justa.
Ora, ao efeito precedendo sempre a causa, se esta não se encontra na vida atual, há de ser anterior a essa vida, isto é, há de estar numa existência precedente.
Por outro lado, não podendo Deus punir alguém pelo bem que fez, nem pelo mal que não fez, se somos punidos, é que fizemos o mal; se esse mal não o fizemos na presente vida, tê-lo feito noutra.
É uma alternativa a que ninguém pode fugir e em que a lógica decide de que parte se acha a justiça de Deus”.
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