domingo, 29 de março de 2015

''140 anos sem a presença física de Allan Kardec''


Hippolyte Léon Denizard Rivail – Allan Kardec – desencarnou em Paris, em 31 de março de 1869, aos 65 anos, devido à ruptura de um aneurisma.

São 140 anos sem a sua presença física, mas em todo esse tempo contamos com a sua assistência espiritual. 

A Doutrina Espírita, por ele codificada, engrandeceu-se durante todo esse tempo, conquistando o respeito e a credibilidade, pela firmeza de seus postulados, instituindo a ligação do homem com o Universo, dando-lhe as chaves para a compreensão dos mistérios da chamada morte e esclarecendo, de maneira clara e objetiva, as perguntas seculares: 

“Quem eu sou?”; “De onde eu venho?”; “Para onde eu vou?”

Personalidade ímpar, tornou-se respeitado pela retidão de caráter e pela coerência de suas ações, tendo sido cognominado por Camille Flammarion como O Bom Senso Encarnado. 

Corajoso e altivo, nunca esmoreceu diante da tarefa, bastante árdua, como ele próprio dizia em nota de primeiro de janeiro de 1867, quando se referia às ingratidões de amigos, ódios de inimigos, injúrias e calúnias dos fanáticos.

Ao observar o fenômeno das mesas girantes, ou falantes, não teve a atitude covarde de alguns pesquisadores que, em nome de convicções absurdas, têm a pretensão de acharem que são especialistas em assuntos que não conhecem. 

A dedução de Allan Kardec foi a mais lógica e sensata possível: se uma mesa não tem boca para falar, cérebro para pensar e nervos para sentir, as respostas inteligentes às perguntas formuladas somente podem vir de uma inteligência que não vemos, ou seja, os Espíritos. 

Esta foi a conclusão do grande Mestre.

Figura de respeito, tinha o “semblante severo quando estudava ou magnetizava, mas cheio de vivacidade amena e sedutora quando ensinava ou palestrava. 

O que nele mais impressionava era o olhar estranho e misterioso, cativante pela brandura das pupilas pardas, autoritário pela penetração a fundo na alma do interlocutor. 

Pousava sobre o ouvinte como suave farol e não se desviava abstrato para o vago senão quando meditava, a sós. 

E o que mais personalidade lhe dava era a voz, clara e firme, de tonalidade agradável e oracional, que podia mesclar agradavelmente desde o murmúrio acariciante até as explosões de eloquência parlamentar. Sua gesticulação era sóbria, educada.”

Era exemplar o seu comportamento diante das pessoas: 

“Quando ouvia uma pessoa, enfiava o polegar direito no espaço entre dois botões do colete, a fim de não aparentar impaciência e, ao contrário, convencer de sua tolerância e atenção. 

Conversando com discípulos ou amigos íntimos, apunha algumas vezes a destra (mão direita) no ombro do ouvinte, num gesto da familiaridade. Mantinha rigorosa etiqueta social diante das damas” (Grandes Vultos do Espiritismo, de Paulo Alves Godoy – Edições FEESP).

Colocado na galeria dos grandes missionários e benfeitores da Humanidade, a morte de Allan Kardec foi assim anunciada pelo Le Journal Paris, em 3 de abril de 1869:

“... Vimo-lo deitado num simples colchão, no meio daquela sala das sessões que há longos anos presidia; vimo-lo com o rosto calmo, como se extinguem aqueles a quem a morte não surpreende, e que, tranquilos quanto ao resultado de uma vida honesta laboriosa, deixam como que um reflexo da pureza de sua alma sobre o corpo que abandonam à matéria.

Resignados pela fé em uma vida melhor e pela convicção na imortalidade da alma, numerosos discípulos foram dar um último olhar a esses lábios descorados que, ainda ontem, lhes falavam a linguagem da Terra...

Que adianta contar detalhes da sua morte? 

Que importa a maneira pela qual o instrumento se quebrou e porque consagrar uma linha a esses restos integrados no imenso movimento das moléculas? 

Allan Kardec morreu na sua hora. 

Com ele fechou-se o prólogo de uma religião vivaz que, irradiando a cada dia, em breve terá iluminado a Humanidade. Ninguém melhor que Allan Kardec poderia levar a bom termo essa obra, à qual era preciso sacrificar as longas vigílias que nutrem o Espírito, a paciência que ensina continuamente, a abnegação que desafia a tolice do presente para só ver a radiação do futuro.

... Seu nome, estimado como o de um homem de bem, é desde muito tempo vulgarizado pelos que creem e pelos que temem. 
É difícil realizar o bem sem chocar os interesses estabelecidos.

O Espiritismo destrói muitos abusos; também ergue muitas consciências doloridas, dando-lhes a convicção da prova e a consolação do futuro.

Hoje, os espíritas choram o amigo que os deixa, porque o nosso entendimento, demasiado material, por assim dizer, não se pode dobrar a essa idéia da passagem. 

Mas, pago o primeiro tributo à inferioridade do nosso organismo, o pensador ergue a cabeça, e para esse mundo invisível, que sente existir além do túmulo, estende a mão ao amigo que se foi, convencido de que seu Espírito nos protege sempre.

Essa morte, que o vulgo deixará passar indiferente, é um grande fato na história da Humanidade. 

Este não é apenas o sepulcro de um homem; é a pedra tumular enchendo o vazio imenso que o materialismo havia cavado sob os nossos pés, e sobre o qual o Espiritismo espalha as flores da esperança.”

Altamirando Carneiro - São Paulo, SP (Brasil)
Revista O Consolador

* * *
Túmulo de Allan Kardec



“Voltaste a esse mundo donde viemos e colhes o fruto de teus estudos terrestres. Aos nossos pés dorme o teu envoltório, extinguiu-se o teu cérebro, fecharam-se-te os olhos para não mais se abrirem, não mais ouvida será a tua palavra... Sabemos que todos havemos de mergulhar nesse mesmo último sono, de volver a essa mesma inércia, a esse mesmo pó. Mas, não é nesse envoltório que pomos a nossa glória e a nossa esperança. Tomba o corpo, a alma permanece e retorna ao Espaço. Encontrar-nos-emos num mundo melhor e no céu imenso onde usaremos das nossas mais preciosas faculdades, onde continuaremos os estudos para cujo desenvolvimento a Terra é teatro por demais acanhado. (...) Até à vista, meu caro Allan Kardec, até à vista!”
(Trecho de discurso proferido por Camille Flammarion, astrônomo francês e amigo pessoal de Kardec, na ocasião do seu sepultamento.)

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